Amor Eterno

Em meados de 1969, conheci um movimento inédito na cidade de São Paulo. Era o movimento hippie. Abracei a causa e logo caí na Feira da República. No começo, eram poucos expositores; selos e moedas foram os precursores. Alguns trabalhos como pinturas e esculturas eram feitos no decorrer da feira, dando um ar de autenticidade. Corri no sapateiro do bairro onde morava e pedi algumas sobras de sola de sapato, com aqueles pedaços, comecei meus primeiros trabalhos em couro, fazendo algumas presilhas para cabelos.

A feira foi crescendo, tanto que éramos obrigados a vir no sábado para guardar o lugar para a feira de domingo. Dormíamos no chão com cobertores que no dia seguinte serviriam de toalhas para expormos nosso trabalho. Passamos momentos difíceis, mas apesar disso, com muita coragem, determinação e trabalhos de qualidade feitos à mão é que conseguimos fazer a feira vingar.

Este é um dos segredos para uma feira de sucesso: trabalhos criativos, originais e de qualidade. Nesses 43 anos de feira, expondo em companhia da minha esposa (Maria Salette), criamos e formamos duas filhas: Constância e Domenika Guida. Vendemos nossos trabalhos para o mundo todo, exportamos por intermédio do grupo Pão de Açúcar para Portugal (1980), ano seguinte para Japão e Alemanha. Recebemos turistas de vários países que nos visitam com frequência na feira. Somos uma referência e eu me orgulho muito disso. Temos um manuscrito com experiências vividas nestes anos todos.

Minha mulher e eu respiramos a Feira da República. Em 1972, na gestão do prefeito Faria Lima e por intermédio da secretaria de Cultura e Turismo, foi emitida a primeira licença para expor na Feira. Desde então nunca faltamos. Hoje em dia, me preocupo com o rumo que a feira está tomando. Somos os heróis da resistência, os dinossauros que mais uma vez arregaçou as mangas e foi à luta.

Apesar de todos os esforços de alguns, ainda falta muita coisa para a Feira voltar aos bons tempos. Estou disposto a colaborar no sentido de formar um grupo de união, um grupo de trabalho, para que juntos elaboremos um projeto para ser executado imediatamente. Projeto este que visa uma série de mudanças possíveis para um melhor andamento da feira. A Feira de Arte e Artesanato da República é, para mim, a mãe das feiras. Foi por intermédio dela que surgiram todas as outras existentes no Brasil. Vamos nos unir, vamos espalhar paz, amor e liberdade!

Estêvão Guida (Ferrugem). Hippie e artesão sempre!

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