Imaginei ter tido um sonho antes de nascer, quando ainda estava em formação no sagrado ventre de minha querida mãe. Nesse momento, pude conversar com Deus que me perguntou: “Onde você gostaria de nascer?”.
Sem titubear, respondi: “Eu gostaria de nascer num local onde a felicidade fosse a rotina de seu povo; um lugar que tivesse em seu ponto mais alto uma bonita igreja com uma majestosa torre apontando para céu. A igreja em meio a um largo que tivesse um nome que levasse o número da sorte, Treze, ou que lembrasse a data da igualdade das raças no meu país, Treze de Maio. Que essa igreja fosse ligada por uma rua direita a um lindo Jardim, que tivesse um coreto, banda de música e bonitas moças para que, um dia, eu pudesse eleger uma delas para ser a mãe de meus filhos, e com ela viver até minha morte…”.
Continuei: “Nesse lugar, Senhor Deus, gostaria que tivesse vários cinemas: um com nome de milionário indiano. Cine Marajá. Outro, com o nome de um elemento da natureza, Cine Mar, e o último com o nome daquele santo que o Senhor escolheu para proteger os pássaros, Cine São Francisco. Quero nascer num lugar onde as suas mais importantes personalidades sejam um poeta de nome Paulo, um escultor de nome Júlio e um professor apelidado de Chico Doce. Um poeta tão sensível que morreria de amor e um professor tão humanizado que teria um filho poeta. Nesse sagrado lugar, meu Deus, esse escultor deve ser arrojado para construir um gigante de concreto, que será o portal da terra onde eu gostaria de nascer”.
Por fim, libertei-me do sonho e me encontrei nas mãos daquela senhora negra, Dita Parteira, num pequeno hospital de um médico chamado Scalamandré, na Avenida Adolfo Pinheiro, numa propriedade da família Elias e tudo que pedi a Deus aconteceu. Nasci em Santo Amaro.
E-mail: [email protected]