Se fosse hoje

Quando eu tinha 14 anos, década de 70, eu trabalhava em uma confecção no bairro do Tatuapé. Era uma pequena oficina, com mais ou menos uns 60 funcionários, sendo a maioria mulheres. Em épocas festivas, principalmente em final de ano, trabalhávamos muito, tínhamos que fazer horas extras para darmos conta dos pedidos.

Eu gostava do que fazia e me dedicava muito, mas por ser uma garota de 14 anos, alegre, e querida por todos, fazia brincadeiras, cantava, conversava, mas não deixava de fazer minhas obrigações. Minha patroa na época gostava muito de mim e não se incomodava com meu jeito de ser.

Porém minha chefe, cunhada dela, não pensava da mesma maneira, e um dia me deu uma baita bronca, chegou a gritar comigo na frente todos…
E eu, ao invés de ficar quieta, respondi que mesmo falando ou cantando conseguia dar conta do serviço. Ela ficou nervosa, chorou, disse que eu era mal educada.

Uma outra senhora que trabalhava conosco, tomou as dores dela e saiu da máquina de costura em minha direção e disse a seguinte frase, em voz alta: – Você é muito atrevida sua negrinha, quem você pensa que é para responder a dona Ely desse jeito?

Eu não me intimidei, mantive minha posição, mas aquelas palavras eu nuca esqueci… Não guardei rancor, com o tempo essa senhora que havia me xingado, ficou muito minha amiga e um dia chegou a me pedir desculpas pelo que fez… Se fosse hoje, ela iria passar no mínimo uns dias na cadeia.

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