Psiu, Sabiá!

Morar em uma cidade como São Paulo era, há tempos, estar privado de algumas coisas, entre elas estar em contato com o canto dos pássaros, sempre muito ariscos e mais habituados às áreas rurais e bem verdes. Infelizmente, pois eles alegram e enfeitam nossa cidade de forma inigualável.

De um tempo para cá, porém, temos tido a companhia de nossos amiguinhos cantadores, várias espécies de pássaros que parecem ter se adaptado ao cinza e ao concreto de nossa metrópole.

Todavia, essa adaptação fez com que eles disputassem à tapa, ou melhor, “à asada”, os espaços verdes que servem de território para as aves urbanas.

Entre esses voadores urbanos, o que mais se sobressai é o sabiá. Meu Santo Antonio! Como canta essa criatura, principalmente em época de acasalamento que, segundo especialistas, vai do final do inverno até o verão, ou seja, só não canta no outono. Como nossas estações não são muito bem definidas, corremos o risco de tê-los cantando o ano inteiro.

O canto do sabiá é lindo, embora tenha apenas três acordes, que são repetidos incessantemente durante horas a fio.

Segundo conhecedores, o sabiá laranjeira defende seu território cantando a uma distância de cinco metros do ninho, ensinando dessa forma segura aos seus filhotes a melodia característica.

Lindo e poético, não fosse o horário que essa espécie escolheu para fazer isso com mais intensidade: de madrugada! Por questões de segurança, onde o horário dificulta a presença de predadores, o sabiá se afasta do ninho, e com um olho nos filhotes e outro nos predadores, canta, canta, canta e canta mais ou menos a partir das 3h da manhã e vai, vai, vai, até quase amanhecer.

Sei que não é muito simpático falar isso de nossos queridos amiguinhos, os sabiás, mas é que a gente dorme também no final do inverno, durante a primavera e no verão, então aqui vai um apelo a Sua Majestade:

“Na hora de dar aula à criançada, canta mais baixinho, Sabiá!”