Hoje, lendo um magnífico texto do nosso mestre Modesto Laruccia, lembrei-me de um cavalo que foi nosso (meu e do meu cunhado) durante algum tempo, na Rua Mello Barreto, no meu velho e querido Braz.
Tudo começou quando fomos até "Ilha do Sapo", próximo à Avenida Dom Pedro, bem na divisa da Mooca com o Ipiranga. Naquela época íamos lá para "andarmos a cavalo", explico: os carroceiros, nos finais de semana, quando não trabalhavam, deixavam seus animais de carga pastando na beira do Rio Tamanduateí, que naquela época tinha uma margem bem grande, e toda a área tinha pasto (capim), e após uma "científica" pesquisa, escolhíamos alguns cavalos para nos divertir, montando "a pêlo" mesmo, sem que os donos soubessem, nos divertíamos até um pouco antes do entardecer, já que, pelas nossas pesquisas, sabíamos a que horas os donos apareciam.
Certa manhã de sábado, percebemos um belo cavalo branco solto, sem nenhum sinal de que pudesse estar antes amarrado, pela nossa lógica pensamos… Tá solto, pode não ter dono, vamos andar com ele, e após o deixaremos também solto, se amanhã ele estiver solto, será nosso!
Domingo cedo lá fomos nós, com esperança de que o cavalo estaria solto, e não é que estava mesmo?! Pela nossa lógica, o cavalo não tinha dono! Comprovadamente, nós o achamos, e se achamos era nosso! Demos o nome de "Silver", em homenagem ao cavalo do Zorro, fique bem claro! “Do Zorro, aquele que tinha o índio de nome "Tonto" como amigo", e levamos, aliás, o Silver nos levou até a Rua Mello Barreto.
Chegamos lá, paramos na porta da minha nona "furturela" e enchemos um balde de água pra ele beber, e aproveitamos e demos um belo banho no Silver, arrumamos um pouco de milho para ele, naquela altura já estava anoitecendo, tentamos colocar o Silver na casa da minha nona, não conseguimos, lembrei de um "matinho" que tinha na Rua Professor Batista de Andrade, bem atrás da casa da minha nona, levamos ele para lá, e fomos dormir com a absoluta certeza de que o Silver era nosso.
No dia seguinte, com a rotina de ir na escola e só ter tempo livre à tarde, nos encontramos após o almoço, e fomos até o "matinho", encontramos alguns vizinhos que perguntaram de quem era o cavalo, se o dr. Romeu (que era dono do "matinho") sabia ou tinha autorizado deixar o cavalo lá etc… etc…
Desconfiados de que a coisa ia começar a feder, levamos ele de volta pra Mello Barreto, e o deixamos no final da rua (que na verdade era uma vila), ninguém podia mexer no cavalo, só nós. Ficamos com ele até o outro domingo, ele dormia amarrado em uma porteira que tinha no final da rua, quando algum vizinho ou parente perguntava alguma coisa, falávamos que o cavalo era do seu Zé, que foi viajar e deixou o cavalo para nós tomarmos conta.
Nos divertimos muito, tinha vez em que eu era o Zorro e o Pascoal era o Tonto, e, em outras, ele era o Zorro e eu o Tonto, nós "revezávamos". Não me lembro quantas vezes eu ou ele fomos o Tonto, só sei que tinha uma vizinha que trabalhava na Prefeitura (dona Nena) e que, de tanto ver a gente andar no cavalo, lavar o cavalo, amarrar o cavalo, alugar o cavalo (sim, de vez em quando alguém queria andar de cavalo, nós cobrávamos, e só podia andar na vila, um ficava do final e outro na esquina), ela chamou a Sociedade Protetora dos Animais, e nos levaram o Silver, justo quando quase estávamos completando o dinheiro para comprar uma sela. xplicamos que o cavalo estava solto, e blá, blá, blá, blá, blá, blá, não adiantou nada.
Ficamos revoltados com a falta de compreensão, tanto dos vizinhos, como da Dona Nena, e principalmente da Sociedade Protetora dos Animais, onde se viu? Achamos o cavalo, tratamos dele que nem um filho, e ainda levaram ele embora! Ninguém entendia a gente, realmente nos sentimos dois "tontos".
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