Bexiga, anos 40 e 50

Tomei conhecimento deste trabalho da São Paulo Turismo faz pouco tempo e me interessei pelos textos a respeito do bairro do Bexiga.

Todo o material que tenho lido descreve um Bexiga onírico, ideal ou idealizado, cheio de nonnas e nonnos sempre alegres e felizes. Todos lembram-se de infâncias maravilhosas vividas num lugar "que vai ficar para sempre em minhas lembranças", como normalmente terminam estes textos.

A verdade é que a coisa não era bem assim; especialmente nos anos 40 e início dos 50 – da época da guerra até o fim do uso dos cartões de racionamento, a vida no bairro era muito difícil, pois havia um grande contingente de famílias morando em porões infectos e cortiços (eu mesmo morei em um que ficava na Rua Ruy Barbosa, 468, ao lado do empório do Seu Marsiglio), havia desemprego, havia fome, filas para comprar o "pão de guerra" que era vendido em pedaços: – "Seu" fulano, me vende 100 gramas de pão? Quanto é? 400 Réis? Mas eu só tenho 300 Réis!! "Tá" bom, me vê então 300 réis…

Tempos bicudos, como diria Juca Pato, criação imortal de Belmonte para a Folha da Manhã. Havia o bonde 5 – Bela Vista, que tinha ponto final e inicial na Praça das Bandeiras, custando 200 Réis a passagem, muito dinheiro para quem vivia de ordenado; a saída era ir a pé para o centro ou para a Avenida Paulista e "se virar" para chegar ao local de trabalho ou escola.

As crianças não tinham onde brincar, faltava água etc. etc.

Em 1947 os bondes da Light passaram para a CMTC e o preço das passagens subiu para 500 Réis, e dos poucos ônibus para 1.000 Réis, provocando um quebra-quebra geral com incêndios e feridos e prisões por todo o bairro e por toda a cidade.

Mas, hoje, eu estou muito resmungão, melhor baixar um pouco a bola… As coisas começaram a melhorar a partir dos anos 60, mas aí o Bexiga não era mais o Bexiga, transformou-se numa foto na parede. Melhor apoiar a epigrafe do filme "O homem que matou o facínora": Quando a lenda for mais importante que a verdade, imprima-se a lenda!

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