Antigos caixas externos

Nos anos de 1943 a 1951, com quase nove anos, trabalhei no Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais, hoje BEMGE, um banco estatal do governo mineiro, com sucursal em São Paulo na rua da Quitanda Nº. 126, bem próximo á Praça do Patriarca.

Naquele tempo, não havia agências bancárias espalhadas pela cidade. Bancos, só se encontravam nas ruas da Quitanda, Álvares Penteado e 15 de Novembro. O povo não usava banco, pois as contas de consumo, água, luz e telefone (que eram poucos), eram pagas nas agências das respectivas empresas, localizadas nos principais bairros (que também eram poucos). Naquele tempo, os bancos pagavam juros sobre o saldo credor em contas correntes.

Os bancos eram usados pelas empresas que faziam os pagamentos entre si, por meio de cheques, os quais, no dia seguinte do recebimento, eram "cambiados", ou seja, eram trocados entre os bancos, num andar do banco do Brasil, na esquina das ruas Álvares Pentenado e Quitanda. Para se ter uma idéia, o banco em que eu trabalhava, nunca atendia mais que 15 pessoas durante o expediente das 12 às 16 horas.

Mas o mais inusitado, para os dias de hoje, é como era feito o transporte de dinheiro entre os bancos.

Durante algum tempo, eu trabalhei como caixa externo. O caixa externo era um funcionário, da seção de tesouraria, cujo trabalho era transportar dinheiro, de banco para banco, de empresa para o banco ou do banco para empresa. Quase todas as empresas da época tinham seus próprios caixas externos, que levavam e buscavam dinheiro nos banco.

Esses funcionários, na maioria dos casos, andavam a pé, transportando o dinheiro numa mala de viagem. Circulavam por todo o centro da cidade, sem que nunca se tenha ouvido dizer de que algum tenha sido abordado por quem quer que seja.

Eu, por muitas e muitas vezes, saí do meu banco com duas malas de viagem cheias de dinheiro e levei ao banco do Brasil, na esquina da Rua da Quitanda com Álvares Penteado. Também por muitas e muitas vezes, fiz a viagem ao contrário, ou seja, levando um cheque do meu banco: ia ao Banco do Brasil e de lá trazia as malas cheias de dinheiro. Nem eu, nem outros tantos bancários que faziam esse serviço, éramos acompanhados por qualquer tipo de segurança.

Quando vejo hoje, a forma pela qual esse serviço é feito, eu próprio fico abismado com tanta mudança!

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