Enfim mais um domingo, dia de irmos à igreja. Após um longo caminho, cujo percurso fora realizado ora de metrô ora de ônibus, chegamos à rua das Giestas. À rua foi dado o nome de um pequeno arbusto marrom, de flores amarelas, utilizado para a fabricação de vassouras ou ainda para fins medicinais. Este arbusto é muito comum no Leste Europeu o que me causou grata surpresa, pois em determinada altura da rua podemos avistar a cúpula da igreja Nossa Senhora da Glória, paróquia pessoal da comunidade ucraniana.<br><br>Mais a frente a esquerda temos a Vila Zelina (zelyony, verde em russo, será uma feliz coincidência?) Em algumas leituras que fiz após minha visita ao bairro, li que o nome Zelina, trata-se de uma homenagem à filha do loteador das terras que deram origem à vila), um bairro com marcante presença de lituanos, muito expressiva na igreja São José com arquitetura típica lituana e à frente da igreja, a santa cruz ricamente ornamentada com elementos da natureza, costume comum naquele país.<br><br>Embora professemos a fé na igreja católica romana, não parei nessas igrejas, mas prossegui adiante, rumo a um pedacinho da Rússia em meio ao calor dos trópicos. Os sinos soaram e com um olhar mais atento pudemos vislumbrar em meio às árvores a cruz ortodoxa bem como as belas e inconfundíveis cúpulas, marcas da identidade arquitetônica ortodoxa. O grande movimento de pessoas de pele clara e olhos azuis, homens altos, mulheres cobrindo a cabeça com lenços coloridos certificavam-me de que ali era o local, a paróquia Santíssima Trindade, igreja fundada na década de 1930.<br><br>A divina liturgia naquela manhã congregava imigrantes e descendentes de fé ortodoxa a celebrarem a sagração do novo bispo para América do Sul. O padre George Petrenko é o primeiro brasileiro a ocupar o cargo. O meio conhecimento acerca da língua russa limita-se a um tímido "spasiba".<br><br>Embora a celebração tenha transcorrido predominantemente em língua eslava e não tinham bancos, pois nas igrejas ortodoxas não se devem ter bancos, apenas os idosos se sentam em pequenos bancos fixados nas paredes laterais, pude sentir a alegria, respeito e carinho por parte de todos que ali estavam em relação aos representantes da Igreja Ortodoxa. A beleza do momento foi enriquecida com lindas canções entoadas por um coro que conferiam à celebração um ar solene e todos os sentimentos que permeavam meu coração eram emoldurados pela rica arte icônica sempre presente nas igrejas de ritos orientais.<br>Transcorridas cerca de quatro horas, a divina liturgia se encerrava com sincero agradecimento do então bispo, que disse a seus fiéis a partir de então a comunidade passava a ter um padre a menos, porém havia um bispo a mais, e pediu a todos que continuassem a orar por ele em particular a partir daquele especial momento.<br><br>Mais um domingo na terra da garoa, meu amigo e eu não pudemos ficar para confraternização, mas pudemos saborear a cultura ortodoxa russa!<br><br>O autor, Graduado em Letras, encontra-se em fase de elaboração de projeto para mestrado, cuja temática a ser pesquisada será a tríade imigração, identidade e imprensa em São Paulo.<br><br>E-mail do autor: [email protected]