Foi no dia 25 de agosto de 1961, que já estava chegando ao fim.<br><br>Jânio Quadros tinha um medo enorme do mês de agosto. Chegou a dizer que nunca tinha gostado dele.<br><br>Jânio tinha a mania de querer renunciar. Um dia, Rui Mesquita, diretor do jornal O Estado de São Paulo, entrou no seu gabinete e viu Jânio olhando fixo para uma residência próximo ao palácio dos Campos Elíseos. Era a casa do vice-governador Porfírio da Paz. Jânio disse ao jornalista: “Estou olhando para a casa do futuro governador de São Paulo”. Seu pensamento não era outro, senão renunciar ao cargo. Mas a renuncia ficou só no pensamento.<br><br>Em 1960, Jânio era unanimidade nacional, tanto prova que ganhou a eleição com sobras. Jânio não tinha o apoio que precisava do congresso e também tinha o sonho de governar com autoridade, e seu apoio era somente do povo – pelo menos foi mostrado nas urnas.<br><br>Então ele teve a idéia de renunciar e voltar aos braços do povo, como aconteceu democraticamente dez anos antes com Getulio Vargas. E renunciou numa data comemorativa ao dia do soldado. Pouco antes do seu ato, participou da solenidade da data dedicada a eles.<br><br>Carta feita, carta entregue ao ministro da justiça Oscar Pedroso Horta. Sem saber o que fazer com ela, Pedroso Horta entregou a carta ao presidente do senado Auro de Moura Andrade. Foi a mesma coisa que mandar cabrito tomar conta do canteiro de verduras.<br> <br>Mesmo sendo sábado e estando com a carta-renúncia na mão, Auro de Moura Andrade começou a telefonar para todos os senadores que fossem às pressas a Brasília para aprovar, a toque de caixa, a renúncia. <br>Eles correram, mesmo que não recebessem hora extra por aquele trabalho. Todos presentes e o trabalho realizado.<br> <br>Pronto. A confusão estava arrumada, os soldados, que acabavam de comemorar o seu dia, não estavam gostando nada daquilo. O vice-presidente da república estava na China comunista e era tido como o próprio. Aí ficou aquele vem-não-vem. Falava os milicos daqui e o presidente do senado de lá, gritando a todos os pulmões:<br>- Venha Goulart. Venha que estou aqui para fazer você tomar posse. <br><br>Bem, para não ir muito longe, uma manobra feita por Tancredo Neves acalmou os militares. Ele vem, toma posse e passa a ser o presidente. Faz de conta, vai… Ele senta na cadeira que era do Jânio, mas não pia. Deixa comigo, serei primeiro ministro. <br><br>E o ex-vice ficou sendo o presidente de mentirinha até o dia primeiro de abril de 1964. Aí a mentira foi comemorada.<br><br>e-mail do autor: [email protected]