(…) já ouvi e li relatos de assaltos que seriam cômicos, senão fossem trágicos, o que aconteceu comigo antevéspera do Natal foi mais um que não entrou para a estatística porque não procurei a "pulicia, siga o B.O." informal para ser breve:
Local: Sampa – Bairro Jd. Ester – Favela do Sapé (entrada da bocada).
Dia: 23.12.2014 – Horário: 9h35 da manhã.
Ocorrência: Fui procurar um "gato" (é aquele que traz seres humanos do interior para trabalhar nas grandes obras de São Paulo e escravizam-nos), pois estava devendo-me, "coisa" que nunca fiz e nunca tive problema em andar nas favelas de São Paulo, ao ficar admirando a tecnologia da indústria da construção, fazerem prédios na favela, tirei meu óculos do bolso e fui andando, ao chegar em meu carro senti a falta de um documento que estava no meu bolso, então voltei para ver se achava caído, nessa volta avistei dois "imundos, fedorentos, escrotos e outros que tais", resolvi atravessar a rua, senti que ia ser assaltado, não deu outra, um deles gritou:
– “Não atravessa não tio e fica parado, levantou sua maltrapilha camisa é lá estava uma arma até reluzente, o outro fez o mesmo e ficou atrás de mim, fui feito o recheio deles, pediram 200 reais (estava com a chave do carro na mão, relógio, celular, mais 120 reais), disse-lhes:
– “Serve 10 reais”.
Ele disse:
– “Não, quero 20 reais.”
Expliquei a ele que estava procurando um documento, nisso avistei o documento no chão, mostrei a eles, foi quando um deles mandou o outro ir pegar… Ficamos negociando até que disse:
– “Vou ali no bar buscar o dinheiro emprestado.”
Conhecia o dono do bar, liberou-me para ir buscar os 20 reais, mas ficou olhando-me para ver se voltava, isso há uns 200 metros de distância, fui até o bar, entrei e sai, voltei com 20 reais que tinha no meu bolso, quando estava voltando, um caminhão de lixo parou, ele ficou na frente do tal, quando passou um carro ele sacou a arma e bateu no vidro, gritei a ele para não fazer isso pois estava com o dinheiro, ele guardou a arma.
Estava respirando fundo, pois vocês não imaginam a vontade do que tinha de fazer com aqueles dois, caso acertasse um, o outro me acertaria, quando entreguei o dinheiro a um deles, fez um gesto de "presidiário", agradeceu, disse que cabelos brancos são "firmeza", todo drogado, em um baita sol, calor, tinha até plateia, eram os operários da obra, mas não podiam fazer nada, depois que foram embora, encontrei um Sr. residente na favela, disse-me que um deles é violento e que logo subiria para o inferno e bem rápido, tomara… Eram jovens, provavelmente estavam de saída temporária da cadeia, com a cabeça cheia de tudo o que não presta.
Tenho sempre alguém a meu lado protegendo-me, pois sempre tenho frieza nessas horas de aperto, só lamento que esse fato tenha acontecido na bocada, um lugar que tem gente boa e conheço muitos.
Espero não encontrá-lo nunca mais por onde ando, nenhum dos dois.