No início dos anos 1960, o dia de finados era um dia de muito respeito aos mortos. Esse dia era cultuado como se fosse uma Sexta Feira Santa. A demanda aos cemitérios era tanta que os congestionamentos eram grandes, devido às ruas estreitas mesmo com o número de carros sendo bem menor do que hoje. A maioria das pessoas ia de ônibus, e a CMTC, a empresa que tinha o monopólio do transporte coletivo da cidade de São Paulo, desviava muitos veículos de outras linhas para reforçar os trajetos em que estavam os cemitérios. Os veículos tinham uma placa no vidro dianteiro dizendo a que cemitério servia. Muitas vezes em duas ou mais necrópoles.<br>Na zona oeste os cemitérios eram uns bem perto dos outros, sendo que um ônibus servia a vários. Na Rua da Consolação estava o cemitério de mesmo nome. Na Cardeal Arcoverde estava o cemitério São Paulo, e mais adiante na Rua doutor Arnaldo, o cemitério do Araçá.<br>Na zona norte estava o de Vila Nova Cachoeirinha.<br>Na zona Leste quem ia em frente passava pelo cemitério da Água Rasa. E mais à frente o maior cemitério da América latina, o de Vila Formosa, uma verdadeira cidade.<br>Já na zona Sul estava o cemitério de campo grande, na Avenida Nossa senhora do Sabará, que era uma rua estreita chamada de estradinha, a caminho da Pedreira, com terra vermelha dos dois lados, Quando chovia era respingo de água barrenta, e quando não, aquele poeirão. Muita gente por superstição ia com terno branco e chapéu Panamá também branco. Na volta estavam mais vermelhos do que nunca.<br>Nos cemitérios mais antigos como o Araçá, Consolação e São Paulo estavam túmulos que eram verdadeiras obras primas de fazer inveja ao artista aleijadinho. Muita gente ia aos cemitérios nos dias em que não havia muita gente, só para ver essas verdadeiras obras primas. No cemitério do Araçá, observa-se verdadeiras obras de encher os olhos de qualquer um. Muitas dessas obras tiveram a participação de meu pai, marmorista de mão cheia, que trabalhava ali perto desse cemitério, na marmoraria Caggiano. Em muitas ocasiões eu o acompanhava para ajudar em pequenos serviços lá no Araçá e ficava encantado com aqueles monumentais túmulos.<br>Muita gente ia também cultuar pessoas famosas do passado. No cemitério da Consolação estavam Adhemar de Barros, mais tarde sua esposa dona Leonor Mendes de Barros, Monteiro Lobato, Antoninho da Rocha Marmo, tido como santo, e ao lado uma menina que era muito cultuada também pelos espiritualistas. O nome dessa menina não me ocorre agora, mas estive em seu túmulo há anos atrás e pude ver muitas pessoas que lá foram por sua causa.<br>No cemitério São Paulo também tem um mausoléu reservado a ex-atletas de futebol, lá se encontram os restos mortais de Frienderech grande jogador da década de 1930 do Clube Atlético Paulistano. Também muitos dos heróis da revolução constitucionalista de 1932 estão ali sepultados.<br>No cemitério de Vila Formosa eram sepultadas pessoas que não tinham túmulos próprios, também indigentes e muitas pessoas assassinadas que não eram procuradas.<br>No cemitério de campo Grande na zona Sul estava enterrado o grande prefeito José Vicente de faria Lima, um túmulo simples como era simples aquele Carioca de Vila Izabel. Na tampa de quase dois metros uma colher de pedreiro e uma rosa, símbolo de sua administração. No Campo Grande também está o mausoléu dos soldados da polícia militar.<br>No extremo sul da zona sul da cidade de São Paulo, existe o antigo "Cemitério dos colonos alemães de Santo Amaro", denominado atualmente de "Cemitério de Colônia". Ali, em singelos túmulos, estão sepultados os restos mortais dos primeiros colonos alemães do estado de São Paulo. O cemitério data de 1829, sendo, portanto, talvez o mais antigo ainda existente em São Paulo. Está no Bairro da Colônia Paulista, Distrito de Parelheiros.<br>Depois os cemitérios passaram a ter um outro formato. A começar pelo cemitério Guetsemani, (Morumbi) que não possuui túmulos suntuosos, e sim somente uma área gramada, onde o túmulo tem somente uma placa de bronze, indicando o nome da pessoa e o número do local em que está enterrado. O cemitério do Morumbi é outro que também é um enorme gramado, lá está enterrado o campeão mundial de automobilismo Ayrton Senna. É talvez o túmulo mais visitado de todos os que aqui foram relacionados. Numa área específica a ele, em círculo, sempre há bilhetes, cartas, fotos e a bandeira brasileira, tudo levado por fãs. Principalmente no dia primeiro de maio, data em que ele faleceu. Lá também foi enterrado recentemente o locutor da torcida brasileira Fiori Gigliotti, meu chefe, amigo e companheiro do departamento de esportes da Rádio Bandeirantes, nos anos 1970.<br><br>e-mail do autor: [email protected]