Tudo bem, tudo bem, bem, bem

Quando era garoto, fim dos anos 50 e início dos anos 60, eu me lembro que quase ninguém tinha aparelho de televisão em casa. Aos mais privilegiados, que moravam próximo a um bar ou um vizinho que tinha uma, ver tevê era um acontecimento. Lembro-me de assistir pela janela de um vizinho os desenhos da seção zás-trás, os filmes do Roy Roger, Rin Tim Tim e outros.

Mas a festa mesmo era aos domingos a tarde. Era a maior correria, maior empurra-empurra para pegar um bom lugar na janela do Alan, o dono da casa. Ninguém queria perder o "Circo do Arrelia”.

— Como vai, como vai, como vai; muito bem, muito bem, bem, bem.

E o rosto da garotada mudava, todo mundo ria, todo mundo mostrava os dentes ou os cacos dos dentes. Arrelia e Pimentinha marcaram toda uma geração de sonhadores. E até posso dizer que fomos uma geração de privilegiados mesmo, porque pouco ou nada tínhamos de material, mas tínhamos na imaginação o poder de um dia ser o Tarzan, de outro dia ser o Capitão Marvel, de um dia ser Pelé, e de outro dia ser Garrincha. Foi uma infância difícil, mas convenhamos, foi muito boa.

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