Saudades das Copas do Mundo I

Quantas saudades das velhas copas dos tempos do Jules Rimet com apenas 16 países divididos em quatro grupos. Em 1982 inflacionaram o modo de disputa aumentando para 24 seleções e já em 1998 o numero de participantes chegou nos 32 divididos em oito grupos. Eu acho que antigamente se jogava com mais garra, com mais amor à camisa, com mais amor ao país que defendia. Outro dia estava lendo que uma das primeiras reuniões da comissão técnica e jogadores com a CBF, foi para discutir o valor da premiação em caso de vitória. O profissional hoje só olha os cifrões, e são atletas que muito jovens se tornam ricos e milionários em um abrir e fechar de olhos. Nada quanto a isso, pois realmente um atleta com mais de 35 anos com raríssimas exceções é considerado velho. Mas quando se trata de defender o país em que ele nasceu eu acho que ele deveria ter mais orgulho do que desejos. Olha o caso da seleção do Camarões que se recusou a embarcar, pois não chegaram a um acordo quanto ao quesito premiação por participar, e são jogadores que em sua maioria ganham milhões jogando no exterior. Não sei se no fim eles chegaram a um acordo e vieram para a Copa… Enfim o mercado profissional esportivo de maneira geral passou dos limites. Cada membro da comissão técnica da delegação da Espanha vai ganhar $ 720 mil euros. Os campeões do Brasil de 1958 até hoje nunca conseguiram nem a aposentadoria prometida a eles, sendo que a maioria já não se encontra entre nós.
 
Brasil 1950
 
Voltando no tempo sessenta e quatro anos atrás, era o dia 16 de julho de 1950, e me vejo na minha adolescência jogado ao chão de minha casa, no Braz, ao lado da nossa rádio vitrola onde tinha acabado de escutar o jogo da nossa seleção. Chorando copiosamente como se o mundo estivesse acabando. Naquele momento inesquecível para mim não podia compreender o que tinha acabado de acontecer.
 
Nos que éramos considerados favoritos, tínhamos perdido do Uruguai, em uma copa disputada em nossos domínios. Quando iríamos ter outra oportunidade como essa?
Na minha inocência questionava o resultado. Não tinha sido justo, pois tínhamos um grupo cheio de grandes craques, embora com um treinador bairrista. Só escalava cariocas e que tivessem vínculos vascaínos. O Flavio Costa era isso e mais alguma coisa. Esse foi um dos motivos, mais o excesso de confiança. Nos já éramos campeões no momento que o juiz apitou o inicio do jogo, pois 0 x 0 nos dava o título.
 
O primeiro tempo terminou com aquele resultado, e logo no começo do segundo tempo o Friaca abriu o marcador e com o 1 x 0 a esperança era ainda maior, pois eles não tinham todo aquele time para ganhar da gente. E mesmo que eles conseguissem empatar mesmo assim a gente ficava com o caneco. Eu confesso que me sentia contagiado com todo aquele excesso de otimismo como todos aqueles 200mil torcedores lá no Maracanã.
 
O Brasil tinha goleado a Suécia 7 x 1, a Espanha 6 x 1. O Uruguai tinha penado para ganhar da Suécia 3 x 2 e só fez o terceiro nos minutos finais. E estavam perdendo da Espanha, e só conseguiram empatar também nos minutos finais, 2 x 2.
 
Mas realmente jogo de final de Copa só se ganha com muita garra e determinação, e sempre depois de 90 minutos jogados. Tivemos algumas oportunidades no segundo tempo, e como diz o velho ditado “quem não faz toma” e assim foi que aos 20 minutos o Schiaffino empatou. E não demorou se não me engano aos 35 minutos o Ghiggia vira o jogo e derrota o Brasil e leva a Copa, que era nossa, muito nossa. Todos nós colaboramos para essa derrocada, inclusive a imprensa, estampando fotos e manchetes, apontando o Brasil como futuro campeão no dia anterior. Eu sempre achei que não foi o Uruguai que ganhou do Brasil, mas foi Brasil que perdeu do Uruguai. Todos nos menosprezamos aqueles jogadores, mexemos com seus brios, e esse realmente foi o nosso maior erro. Apresentamos ao mundo uma série de resultados espetaculares. 
 
Estavam todos encantados com nossa seleção, mas faltou ao grupo dignidade, humildade, e fomos derrotados por uma equipe inferior a nossa. Eles praticamente iriam entrar em campo para apanhar de pouco, mas ao descobrirem tanta alta confiança dos nossos, e comandados pelo estupendo líder Obdulio Varela, foram criando confiança neles próprios e com muita raça e determinação levaram nota 10, em todos os sentidos.
 
Faltou-nos brio, e por que não dizer vergonha na cara e de uma maneira bisonha perdemos. Tinha comigo uma edição especial da copa de 50 da Gazeta Esportiva que sempre me lembrava dessa tragédia. E muita gente culpava o Bigode, o Barbosa, mas todos nos temos nossa parcela de culpa excesso de confiança, falta de humildade…
 
Já quase aos 80 anos me sinto um privilegiado, pois de todas as copas que o Brasil disputou, só perdi três a de 1930 , 34 e 38. E nas últimas eu sempre me questiono, e penso será que estarei por aqui na próxima?
 
Lembro muito vagamente comentários dos mais velhos da copa de 38, quando o Leônidas que foi o artilheiro daquele ano tinha sido poupado da semifinal, para jogar a final, tanta era a certeza que iríamos derrotar a Itália. E no fim acabamos derrotados por 2 x 1 pela mesma, que acabou sendo a campeã. Daí a gente pode perceber que nossas incertezas e falta de humildade, assim também como excesso de confiança vinha de longe infelizmente. E acabamos em terceiro naquele ano.
 
Suíça 1954
 
Estávamos bem representados com um time cheio de craques, como Castilho, Djalma Santos, Nilton Santos, Bauer, Julinho, Pinga I, Baltazar, Didi o folha seca entre outros.
 
Mas nos faltava organização. Tanto que o empate com a Iugoslávia 1 x 1 nos classificava para a próxima fase e a delegação pensava que estava eliminada. Até os dirigentes tinham dúvidas quanto aos regulamentos. Mas aí cruzamos com a Hungria, do Puskas, Kocsis e Czibor; que nos derrotaram por 4 x 2. E aí foram surpreendidos pelos alemães depois de estar vencendo por 2 x 0 no primeiro tempo. Foi 3 x 2 e a Alemanha foi campeã pela primeira vez. Mais ou menos o que aconteceu com o Brasil em 50, pleno favorito derrotado.
 
Até o segundo capítulo na Suécia de 1958.