Saudades daquele tempo

Semana passada, passando pela Praça do Patriarca, não pude evitar que a nostalgia tomasse conta de mim. Hoje moro em São José dos Campos, mas, dias atrás, precisei ir até à Rua Líbero Badaró para resolver um problema, depois tive que ir até à Rua da Quitanda, em certa agência bancária. Foi nessa rua que eu tive o meu primeiro emprego com carteira assinada, tinha treze anos e minha mãe precisou de autorização do Juiz de Menores, para que eu fosse registrado.<br><br>Era o ano de 1957 e eu fui trabalhar em uma agência de telegramas por cabo, como mensageiro, na All América Cable and Rádio Inc. Andava o dia inteiro por todas as ruas de São Paulo, de bonde, ônibus elétrico e na maioria das vezes a pé. Conforme a distância, a empresa me dava os passes de ida e volta, mas eu ia correndo para economizar os passes para fazer um lanche, ou o que era pior, guardava para poder trabalhar no dia seguinte. Tempos difíceis… quem não os teve? <br><br>Usava uma fardinha cor cáqui, sapatos marrons e um quepe da cor do uniforme. Hoje essa empresa não existe mais, pelo menos no Brasil. Dois anos depois, fui trabalhar como auxiliar de escritório nas Casas Fausto, principal concorrente das Casas José Silva e da Garbo. O escritório ficava na Rua Líbero Badaró, mas, em determinado momento fui destacado para trabalhar na loja, que ficava na esquina da Praça do Patriarca com aquela rua. <br><br>Ao lado existia uma loja de doces da Kopenhagen, aonde raramente eu ia, não por falta de vontade, mas, porque o meu bolso não me permitia. Na hora do almoço, eu e alguns colegas íamos até o auditório da Rádio Nacional na Rua das Palmeiras. Onde ficávamos assistindo não me lembro o quê, comandado pelo saudoso Manoel de Nóbrega, onde um dos apresentadores, no início da carreira, tinha o apelido de "Peru" e mais tarde viria ser um dos mais famosos apresentadores da televisão brasileira, Sílvio Santos. <br><br>Nessa época o Baú ainda pertencia ao Manoel de Nóbrega. A entrada era gratuita e essa era a nossa única diversão. Depois voltávamos do almoço, que na verdade era uma marmita que comíamos fria, pois não havia onde esquentá-la. Retomávamos o nosso serviço de entrega de telegramas. <br><br>Enfim, essas lembranças passaram em minha memória como um filme. E eu ali, em pé, na Praça do Patriarca, cruzando comigo mesmo na magia do tempo. O nostálgico e o garoto com sua fardinha cáqui, com as mãos cheias de telegramas e alguns passes no bolso. <br><br><br>E-mail do autor: [email protected]