Saudade da Lapa de antigamente

Minha história… Bem, minha história começa em 1948. Vivi uma parte da minha vida nas proximidades do Hospital dos Sorocabanos onde, aos onze anos, eu entrava para dar uma espiadinha nos bebês do berçário. As enfermeiras já me conheciam e eu ficava muito tempo olhando os rostinhos rosados através do vidro. Hoje o hospital está fechado, sem esperanças de voltar a funcionar. Mas, nos bons tempos, meu sogro foi muito bem atendido no Pronto-Socorro e meus filhos nasceram dentro daquelas paredes verdinhas.

Fiz minha primeira comunhão na Igreja da Lapa, na Rua Nossa Senhora da Lapa, antiga Rua Anastácio. A igreja era linda, com seus altares repletos de imagens de santos. Ia à missa todos os domingos e depois fazia compras na feira que existia na mesma rua. Feira grande, cheia de barracas multicoloridas pelas cores esfuziantes das cenouras, beterrabas, cebolas verduras e batatas. Comprava frangos vivos, imaginem isso! Hoje comemos os frangos congelados, sem gosto, dos supermercados.

Ao lado da Igreja havia uma casa (ainda existe), onde ao final do ano, mês de Dezembro, montavam um presépio mecanizado. Tudo funcionava direitinho. Tinha a marcenaria, o ferreiro, os cavalinhos, a fonte de água, o sino da igrejinha tocando, as casinhas, ruas e avenidas, morros e árvores. Aquilo era um deslumbre para nossos olhos de criança. Só fui encontrar um presépio igual lá em Gramado, no Rio Grande do Sul, só que bem maior, uma verdadeira cidade em miniatura, funcionando a pleno vapor. Chorei ao recordar!

Tinha a Rua 12 de outubro, tranquila, repleta de lojas, onde estudei na antiga escola de comércio Olavo Bilac, que fechou as portas, e depois, no Campos Salles. Olavo Bilac, prédio antigo, bons cursos e excelentes professores. Campos Salles, mais moderno, depois faculdade, hoje não atende mais seus alunos pela Rua 12 devido aos camelôs que se instalaram na escadaria da entrada do colégio. As ótimas lojas da Rua 12 de Outubro foram embora, desistiram de competir com o comércio clandestino e migraram para os shoppings.

A Lapa tinha ótimos cinemas, onde com frequência eu ia assistir aos bons filmes que passavam. Hoje já nem cinemas existem mais. Lembro que marquei encontro com meu primeiro namorado em frente ao cine Nacional e que fiquei com medo que ele não aparecesse. Mas ele foi e ficamos um bom tempo a conversar sobre filmes, porque tanto ele como eu, gostávamos de cinema.

E as lanchonetes… “ah”! As lanchonetes da rua 12 de Outubro! Aqui estou eu a falar novamente da Rua 12. Sabem por quê? Porque era a melhor rua do bairro. Ótimo comércio, ótimas escolas, lojas finas como a Terana, Ducal, Donatelli, Imperatrice e outras mais, onde o morador do bairro sempre achava o que precisava e por bons preços. Tinha a Cooperativa de Consumo da Lapa, onde fazíamos nossas compras e depois o entregador ia com o caminhão e deixava tudo na mesa da cozinha. Todo mundo se conhecia. Os ônibus, sempre no horário, vinham com os mesmos cobrador e motorista, a gente trocava o bom-dia e ia de papo com os passageiros, que se tornavam amigos, pois eram sempre os mesmos.

O córrego Tiburtino que a cada chuvona que caía transbordava e a minha casa e as da vizinhança se enchiam com suas águas. Era um pavor quando chovia! Hoje ele está canalizado e o problema resolvido, mas quando chove pesado as lembranças voltam.

A Lapa já não é a mesma… Era um bairro tranquilo, casas baixas, no máximo um predinho com dois ou três andares. Hoje surgem espigões da noite para o dia, com muitos andares e pouco espaço. Podíamos sair às ruas a noite, sem problema de sermos assaltados. Saiamos da escola às 23h, íamos para o Twelve tomar um suco, bater papo com os amigos. Hoje já não dá mais para fazer essas coisas.

O tempo passou… E com ele foram embora as boas coisas que esse bairro nos proporcionava. Sinceramente? Tenho saudade daquela época. Muitas saudades!

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