Parques e quermesses

Se há uma coisa que tinha, e muito, na cidade de São Paulo eram parques de diversão, pois havia muitos terrenos baldios na cidade de São Paulo nos anos 1950.<br><br>Já as quermesses se realizavam mais nas igrejas e casas de caridade, para fins de benefício a obras ou para prover a instituição. E, nesse caso, as prendas eram doadas pelos participantes da quermesse.<br><br>Nos parques de diversão havia muitos atrativos, para se divertir e gastar dinheiro também. Além da roda gigante, cavalinhos girando, com uma criança e o pai ou mãe no estribo para evitar que caíssem, tinha o bate-bate, aqueles carros elétricos que era a diversão dos adultos. Tinha também as barracas de tiros. Com espingardas tanto de rolhas como de chumbinho. A de rolha era para derrubar brindes, como maço de cigarros, caixa de fósforos, ou outro brinde qualquer não muito pesado que viesse a cair na lona que aparava a queda dos brindes. Já a espingarda de chumbinho era para atirar em cacos de pratos, ou pires. Não se pode esquecer da barraca das argolas, em que tínhamos que embocar em garrafas de vinho ou refrigerantes.<br><br>Agora, o que o pessoal mais gostava era do serviço de auto falantes, tanto dos parques como das quermesses. A voz padrão do serviço de auto falantes de todos os parques que apareciam na Vila Olímpia, Vila Nova Conceição e Brooklin era do Mário Lucio. Assim que os parques começavam a ser montados, ele já ia na direção e se oferecia para ser o locutor. E com a voz maravilhosa que tinha era logo aceito.<br><br>Nas quermesses da igreja do Divino Salvador, na Vila Olímpia, ele também atuava, mas foi substituído pelo seu Luiz, pai do Berruga, que mesmo tendo uma voz horrível foi guindado ao posto de locutor, pelo fato de ser carola e amigo do padre Jeremias.<br><br>Nas quermesses tinha uma coisa que nos parques não tinha: bingo. Os prêmios eram sempre prendas que as pessoas doavam para arrecadar dinheiro para a igreja, e sempre eram realizados no mês de junho. Quem tinha tradição nessas quermesses com bingo era a igreja de São João de Brito, no Brooklin, no terreno que ficava da Rua Georgia a Rua Luiziania. O comandante da festa era o padre Antonio José dos Santos, muito querido dos participantes da paróquia, que depois de sua morte teve seu nome guindado à ex- Avenida Central do bairro de Monções, que ficava entre o Brooklin novo e o velho.<br><br>Já no parque situado na Avenida Santo Amaro, Vila Nova Conceição, próximo ao grupo escolar Martin Francisco, tinha no domingo, às 18 horas, seu movimento já fervendo, naquele ano de 1957, com as moças circulando em volta do parque no chamado footing. Já os rapazes, sempre encostados nas barracas de olho nelas, estavam geralmente com a mão no bolso. E o serviço de alto falantes dava o início da domingueira do parque.<br><br>Mário Lucio caprichava: “Senhoras e senhores, o serviço de auto falantes do parque inicia seus trabalhos nesse domingo de forte calor de verão. Tenham todos um bom divertimento. Para iniciar, vamos ouvir, na voz de Nelson Gonçalves, A Volta do Boêmio. Música esta que Luiza oferece ao Marcos como prova de muito carinho.”.<br><br>Um dia fui surpreendido com o oferecimento de uma música. A moça ofereceu a quem estava de terno azul marinho e gravata listrada em vermelho e azul. Procurei saber quem era olhando para todos os cantos do parque e logo vi uma moça sorrindo, como a dizer que havia sido ela. E realmente era. Uma moça bonita, e logo demos início a um namorico, e ficou por aí.<br><br>Na semana seguinte, novamente outra música oferecida a mim. Procurei saber quem era e logo fui informado por uma amiga quem era. Quando cheguei perto vi que era uma moça feia de rosto, mas com um corpo bonito. Ao aproximar, com a maior cara dura, fui dizendo: E aí, jaburu? Jaburu é sinônimo de moça feia. Ela, ao contrário de mim, com muita educação, foi dizendo que queria muito falar comigo e o papo rolou firme. Josefa seu nome. Meiga, de uma educação a toda prova, com bom nível de cultura, deu um banho em mim, metido, mal educado e grosseiro. Não namoramos, mas ficamos muito amigos, amizade que durou muitos anos até quando vim a me casar. Aprendi muito com ela, que, inclusive, era mais velha do que eu.<br><br>Neste parque tinha um desafio para os que se consideravam fortes. Era pegar uma marreta grande e dar uma pancada na base e fazer uma argola de ferro bater lá no teto com uma altura de três metros. A maioria chegava aos 2.75, quando muito. Eis que chega seu José, pai do Branca que jogava bola com a gente. Ele e mais outro fizeram uma aposta para ver que alcançava os três metros. Cerveja era o que o perdedor pagava. Seu José foi o primeiro. Deu uma porrada que a argola bateu lá em cima que fez um barulho forte. Seu adversário também bateu nos três metros. E a disputa continuou, ora conseguindo ou não, pois o cansaço já tinha afetado ambos. Estavam empatados. Aí a coisa foi no voto, e a maioria que estava por ali era amigo do Branca e conhecia seu José. Não precisa dizer que foi ele quem ganhou.<br><br>Aposta paga no bar do Maluf não muito longe do parque, na própria Avenida Santo Amaro, quase esquina com a Firmino Ladeira (hoje Santa Justina). Pastéis regados a cervejas, acabou tendo a despesa dividida, mas com seu José dizendo que ganhou por que o barulho que a argola dele foi mais forte do que a do amigo.<br><br>O parque que mais durou foi o da Avenida Santo Amaro, à beira do córrego do cordeiro (hoje Avenida Água Espraiada). Ao lado do fajuto Colégio Oxford, que aprovava quem pagava mesmo não comparecendo às aulas. Quem estudava lá era Paraná, ponta esquerda que jogava no São Paulo.<br><br>Mais do que certo que este parque ficou vinte anos ou mais. Era chamado de Baiano Deys, devido uma grande presença de nordestinos.<br><br>Foi lá que conheci uma pessoa que tinha meu sobrenome sem ser meu parente. Era Cláudio Lopomo, que trabalhava na TV Record. Usou um bom tempo o Miranda entre o nome e sobrenome para despistar de pessoas que iam o procurar para saber se era parente ou não. Ficou feliz, por saber do fato de termos o mesmo sobrenome, e disse ser da família Lopomo do Bom Retiro. A minha família era da região de Pinheiros. E por saber também que eu era radialista, como ele da Rádio e TV Record. Ele tinha uma barraca onde crianças brincavam com carrinhos e ganhavam pequenos brindes.<br> <br>Nesse parque aconteciam muitas brigas, mas uma briga que ninguém esqueceu na Vila Olímpia foi entre vários componentes da turma do Flamengo da Vila Olímpia, em que o agredido foi à polícia e deu parte. Pior: reconheceu um dos agressores, que era o nosso centro avante Álvaro, um português que para brigar era só olhar para ele meio torto. Na refrega, o queixoso perdeu o relógio, mas disse na polícia que foi assaltado. Deu um processo daqueles bem bravos, em que para Álvaro se ver livre, seu pai teve de gastar uma nota bem alta. <br><br>Esse parque deve ter ficado até quando foi iniciada a construção da Avenida Água Espraiada.<br><br>e-mail do autor: [email protected]