Os Natais na Vila Mariana

É engraçado, que quando chegamos ao final de mais um ano e com a aproximação do Natal, nosso coração se enche de esperança, otimismo e vontade que todos vivamos em paz. Essa época, na Vila Mariana, mais especificamente na minha casa, era a cartinha para o Papai Noel, a arrumação da árvore de natal, que meu pai trazia no braço, a escolha do lugar mais visível da sala e lá ficava até o dia 06 de janeiro, Dia de Reis. Dia esse que todo aquele clima se desfazia, a árvore já estava amarelada e voltávamos à rotina. <br><br>Como a árvore era natural, o cheio de mato ficava na sala por todo esse tempo. Ah! A árvore era montada sempre no dia 08 de dezembro, Dia de Nossa Senhora da Conceição e não me perguntem o porquê, pois até hoje não sei. Fazíamos o Presépio com areia e graminha, o lago com patinhos fazíamos com espelhinho de bolsa. No nosso presépio tinha de tudo, um pastor carregando uma ovelha no ombro, pintinhos e a galinha, vaca e bezerros, cavalo e os potrinhos, José, Maria, o Menino Jesus, os Três Reis Magos, a estrela pendurada na manjedoura e na árvore flocos de algodão imitando a neve. <br><br>Tudo isso era simbólico, mas muito sério para todos nós. Nessa altura dos acontecimentos, meus pais já tinham ido muito antes até a lojinha do Seu Manoel, na Rua Domingos de Morais, que facilitava as compras numa caderneta e durante todo o ano os brinquedos pedidos eram pagos e no dia 24, já isentos de cobrança, eram nossos de fato e de direito. Minhas tias chegavam para a ceia trazendo os pratos deliciosos, doces fantásticos, meu avô tocava sanfona e ríamos a valer. <br><br>Depois tinha a "tômbola", tradicional jogo familiar e era aquela alegria quando alguém gritava "cinquina". E tinha os patinhos na lagoa (22), tinha o pingo no pé (9), idade de Cristo (33), bico largo (44) e por aí ia até a madrugada. No dia 25, quando acordávamos e víamos os presentes, era uma tremenda algazarra e então, saíamos na rua, de terra, todos orgulhosos dos presentes recebidos e as crianças se sentiam poderosas, dignas da visita encantadora do Papai Noel, mas o engraçado de tudo isso era que não havia ambição, inveja nem disputa, éramos crianças com pensamentos de crianças. Tudo era na medida.<br><br>E agora, passados tantos anos, vejo que a família, seja a nossa, a Sagrada ou a dos animais do Presépio têm muita influência no que as crianças serão quando crescerem. Era um exercício fantástico na formação de todos e será que hoje existe esse ritual tão Sagrado? Espero, de verdade, que seja.<br> <br><br>E-mail do autor: [email protected]