O rei dos reis, meu pai

Quando nós somos crianças o nosso pai é o nosso herói de verdade. Vamos crescendo e o herói vai envelhecendo. Meu pai era italiano, nascido na cidade de Marconi. Veio moço para o Brasil logo depois da primeira Guerra Mundial, onde lutou pela sua querida Itália. Palmeirense roxo chorava quando o Palestra perdia. Mas, sempre nos ensinou, a mim e aos meus irmãos, o caminhos certos para seguirmos na vida. Era de uma bondade imensa.

Certa vez, ele quebrou um pequeno copo de beber água e ficou o dia todo muito triste; eu disse: “Pai é só um copo”, ele respondeu: “Era um simples copo, mas era meu amigo”. Ele tinha amor pelas coisas que o cercava. Trabalhou mais de 40 anos nos escritórios do Matarazzo (ele veio da Itália junto com o conde Francisco Matarazzo, pai do futuro conde Chiquinho). Sinto saudade dos passeios pela cidade, as idas aos cinemas, eu me lembro de quando era pequeno, com as mãos dadas ao meu pai, eu gostava de passear pela cidade, sentia-me protegido do mundo, pois estava com o meu pai.

A noite, após o jantar, nós tínhamos um pequeno toca disco, ele colocava o disco do cantor Gino Bechi, cantando “Dela strada del Bosco”, ouvia várias vezes e cantava junto com a minha querida mãe. Ouvia Benamilio Gilli, Caruso, Mario Lanza, etc. Adorava ir ao cinema, para ver os cômicos Toto e Aldo Fabrizzi. Mas o tempo passou, meu pai, apesar de ser operado, ficou um homem doente, aposentou-se; mesmo na minha adolescência nós íamos passear na cidade, ele gostava de comprar chapéu, sei que era uma rua do Centro, ou Rua Direita ou Rua São Bento, fiquei homem, mas sempre morando com o meu pai, os meus irmãos casaram-se, cada um seguiu seu rumo, fiquei morando com o meu pai até o dia da sua morte.

Dias antes de morrer, eu percebi que ele estava preocupado comigo. Eu dizia: “Pai, eu vou ficar bem. Não se preocupa, cuida do senhor”. No dia em que o meu pai faleceu parece que abriu um buraco na terra, eu fiquei sem saber para onde ir, as pessoas falavam comigo eu não as ouvia, chorei muito, perguntei a Deus porque as pessoas boas têm que morrer, homens como o meu pai jamais deveriam morrer. No caixão, ele estava com um pequeno sorriso nos lábios, eu entendi que era para mim não se preocupar que estava tudo bem. O tempo passou, hoje estou com 71 anos. Eu sempre me lembro do meu querido pai, para mim, foi o rei dos reis.

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