O moleque travesso

Na minha infância eu brinquei muito na Rua da Consolação, próximo a Alameda Jaú. Foi em 1950, tinha 10 anos de idade.

Brincávamos com carrinhos de rolimã, mocinho e bandido, pula sela e jogávamos futebol na chácara do Araça Bino, hoje conjunto nacional, na Avenida Paulista.

Caçávamos passarinhos no Pacaembu, que naquela época quase tudo era mato, não tinha as mansões que tem hoje. A garotada da Consolação era bem levada.

Certa vez caçando passarinhos, eu estava no meio do mato, quando um gato preto veio correndo todo assustado, pulou em cima de mim e mordeu a minha mão, na verdade ele grudou na minha mão, comecei a gritar. Meus amigos davam chute no gato e nada do gato largar a minha mão.

Foi quando o Miguelzinho teve a idéia de apertar o pescoço do gato, só assim o gato soltou a minha mão. Fui para casa com a mão toda ensanguentada, minha mãe me levou na farmácia do Sr. Pedro na esquina da Alameda Santos.

O Sr. Pedro fez um curativo, e pediu para que a minha mãe me lavasse ao Instituto Pasteur, que ficava na Av. Paulista. Tomei vacina na barriga. Vacina contra raiva.

Outra vez fomos roubar frutas numa chácara no Pacaembu, o caseiro era um homem violento, ele dava tiro de sal na molecada. Fui mordido pelo seu cachorro Bob. Voltei ao Instituto Pasteur. O médico falou para a minha mãe me amarrar numa corrente, pois eu dava muito trabalho para os meus pais.

Tinha um sapateiro italiano na rua, ele não queria que nós jogássemos bola em frente da sapataria, eu quebrei a vitrine com uma estilingada.
Éramos fogo, não tínhamos medo de nada.

Hoje muitos amigos de infância já se foram, mas ficou a saudade. Eu fui muito feliz na minha infância, brinquei com tudo que uma criança tem direito. Fui um moleque travesso muito feliz.

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