Música divina, expressão do ser humano ao ser despertado em épocas distantes, desde um simples ruído natural passando pelos relâmpagos e trovões, espicaçando a curiosidade dos habitantes das cavernas, os primeiros seres viventes. Aprendendo a falar, berrando feito um irracional (de quem aprendeu muita coisa), da fala, ouvindo e copiando os pássaros, vai para o canto, embelezando, melodiosamente, seu relacionamento com outros seres.
Pensando nestes encantadores momentos de ternura e devoção, estou em casa, no Parque Continental, zona oeste de nossa querida cidade de São Paulo, sem me preocupar em descobrir o nascimento de novos músicos e instrumentos musicais. Apenas ouço melodias compostas para mim… Sim, para mim, sempre direcionadas a mim. Ouço-as com respeito religioso, não permitindo que outros ruídos venham interferir na minha audição e contemplação, degustação espiritual que a música me satisfaz.
Se estou ligado à minha caixa de som, coloco um CD de concerto, uma ópera, ou a execução solo de um grande artista do piano, violino, trompete, saxofone, violão ou guitarra ou, senão, uma emissora que tem uma programação voltada unicamente a música clássica enquanto travo minha saborosa batalha com o computador, vou trazendo para dentro de minha alma alegrias, tristezas, nostalgias, saudades, melancolias, enfim, um estado de torpor que certas melodias, na sua magia, no seu modo de ser, no seu poder de penetração, deixam sua marca indelevelmente registradas em nossa existência espiritual.
Gosto de música, minha predileção, como a leitura, em qualquer hora do dia ou da noite. Música ao vivo, assisti muitas vezes, é a realização de uma verdadeira ode instrumental, onde mais de cem professores se empenham em proporcionar a você, presente na plateia, um envolvente momento que se prolonga; a “ad infinitum”, para que você deguste os segredos acondicionados dentro de, desde um simples “triângulo” até o mais barulhento dos tímpanos a ribombar seu coração, em uma alegria contagiante.
Se você ouve um trecho de Mendelssohn, no seu concerto para violino e orquestra, n. 4, é de uma extraordinária beleza. E o Mendelssohn morreu com, apenas, 48 anos…
Não querendo me estender e cansar meus amigos, só quero lembrar “O Cisne de Tuonela”, o “Andante” do concerto para piano e orquestra n. 2, de Shostakovsky.