Morumbi 1964, torcedor novato

O estádio Cícero Pompeu de Toledo, mais conhecido como Morumbi, foi inaugurado em 2 de outubro de 1960, deixando as acanhadas instalações do Canindé que só serviam para treinamento. Quase que o estádio foi construído no varjão do Ibirapuera, mas foi impedido por Jânio da Silva Quadros que não permitiu a doação do terreno que pertencia ao município.

O peixe santista veio jogar com o time da casa e lá se foram os dois santistas de minha casa animados para ver a disputa, o meu pai e meu irmão mais velho que contava com 12 anos. Era o segundo turno do Campeonato Paulista e o time da baixada já tinha emplacado um 5×1 na Vila Belmiro no primeiro turno. Além disso, para tristeza dos são-paulinos, no início do ano no torneio Rio-São Paulo, no estádio do Pacaembu, a vitória do peixe ficou em 4×1. O time do Morumbi tinha o objetivo focado em devolver as duas derrotas.

Era o dia 11 de outubro e tal situação prenunciava uma acirrada peleja. Apitou o início da partida, Armando Marques. Jogo difícil, aquele do lá e cá. Muito equilíbrio e o primeiro tempo quase acabando, Toninho Guerreiro, só aos 34 minutos, abre o placar. Meu irmão não tinha noção sobre os territórios delimitados pelas torcidas e estava com meu pai sentado próximo às hostes são-paulinas. Pagou caro. Toninho estufou as redes e meu irmão subiu com um grito e os punhos cerrados, "Saaaaaantos!". Ele desceu na mesma velocidade com que subiu, pois levou uma tijolada na lateral da cachola e desmaiou. Meu pai socorreu depressa e saiu do estádio para cuidar do filho que, felizmente, não deixou maiores consequências e nem sequelas. Lembro-me do tumulto deles chegando em casa e o mano com a cabeça toda enfaixada. Minha mãe quase teve um ataque, mas no final ficou só a má lembrança do famoso clássico San-São, que lhe rendeu uma tijolada.

Aquele jogo continuou com outro gol de Toninho no início do segundo tempo. Aí, Roberto Dias fez de pênalti para o São Paulo. Não houve muita esperança para o time dono da casa, pois Peixinho fez para o Peixe em seguida. Lá no final do jogo, aos 44, Carbone fechou a conta que acabou em mais uma vitória por 3×2 do time de Gilmar, Zito, Pelé e Pepe. O treinador Lula comemorou e acabou ganhando o campeonato de 64, seguido por Palmeiras, Portuguesa e Corinthians. Eu torcia pelo vice-campeão, mas não me importei muito, pois fui testemunha de como é perigoso ser um torcedor novato dentro de um estádio. Levei muito tempo para ver um jogo ao vivo no Mineirão aos 20 anos, Atlético Mineiro e Olímpia (Paraguai), 1×1, um verdadeiro tédio.

Só para registro, logo depois, em 21 de novembro daquele ano, o time do Santos fez o célebre 11 a zero, contra o Botafogo de Ribeirão Preto, na Vila Belmiro, com oito gols de Pelé. Saudações aos torcedores da Baixada Santista.