Moleque de rua

Estava lendo a história do Ailton Joubert sobre tomar conta dos carros para ganhar uns trocados no final de semana lá no Brooklin, e a briga do seu irmão Ito para defender o seu território. Essas brigas eram bem diferentes em relação às de hoje. Sem muita violência, e que era resolvida no tapa. Sempre tinha na turminha um valentão, e que nós respeitávamos mais pelo seu porte (tamanho) e por isso ninguém nunca resolvia enfrentá-lo. Nas nossas desavenças ele logo falava: “Vou te dar um soco na cara”, eu retrucava: “duvido”.

Como até aquele dia ninguém o havia desafiado, acredito que lá no fundo surgiu um pouco de medo pelo seu lado. Pensou: “e agora o que eu faço?”. Dizia: “vem se você é homem”. Jogava o problema para mim: “vem você, você é quem disse que daria um soco na minha cara”. No fundo os dois tinha medo um do outro. Aí vinha o amigo da onça que dizia: “quem cuspir na minha mão é homem”, só que, se você cuspia, ele tirava a mão da frente e ia na cara do oponente, ai o bicho pegava. Até que aparecia outro amigo da onça e empurrava você em cima do valentão, e sem esperar levava um tabefe na orelha que ficava zumbindo uma semana.

Aí você saia chorando e ia para casa contar para a mãe, pensando: “agora você vai ver só!” “O que aconteceu?” pergunta a mãe, “porque está chorando? O João me bateu. “Ah te bateu? Então venha cá”, e levava outra surra. As mães nunca iam tirar satisfação na casa do rival, porque da próxima vez o problema tinha que ser resolvido lá na rua. Passado uma hora, lá estava o João me chamando para jogar bola e a turma já estava nos aguardando para um racha. Essa era a maneira do amigo se desculpar na nossa época, e olhe só: dali em diante os dois nunca mais brigavam e, por sinal, ficavam ainda mais amigo um do outro.

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