Mico na Vila Nivi

Mico na Vila Nivi? É isso mesmo! Mas não é mico sinônimo de macaquinho, não!

Paguei foi um baita mico, como se diz na gíria…

Eis o que me aconteceu…

Numa bela tarde, em que eu estava indo para a faculdade, aconteceu-me algo na Vila Nivi que na hora fiquei atordoada, mas depois, quando tudo passou, ri muito.

Eu tinha 19 anos, estava toda arrumadinha para a faculdade e fui até a Rua Tanque Velho para pegar o ônibus que passava pelo metrô Santana.

O ônibus apareceu na rua, fiz o sinal de parada, subi, mas quando o ônibus deu arrancada, ainda com a porta traseira aberta, perdi um dos pares da minha linda sandália que ficou caída na rua e eu, lá dentro do ônibus, fiquei descalça de um pé, pedindo ao motorista que parasse o veículo e ele nada de me atender.

Pedi, pedi e ele nada de parar. Pedia com a voz cada vez mais alta, cada vez mais desesperada, pois via a sandália se distanciando na rua conforme o ônibus ia para frente. E o motorista se fazendo de surdo (ou era surdo mesmo) seguia no caminho, rumo ao próximo ponto, sem me dar atenção alguma!

Eu gritei, implorei, supliquei a parada do ônibus e nada adiantava. As outras pessoas olhavam para mim, alguns rindo do meu desespero, outros pedindo ao motorista para parar. E eu, sem graça, pois sempre fui tímida, passei a ficar calada, puxei a alça da campainha e aguardei a parada do ônibus no próximo ponto. Desci sem olhar para a cara do motorista. Eu era um misto de vergonha e de raiva.

Vergonha por estar descalça de um pé, estar chamando a atenção de outras pessoas na rua, por ter dado vexame dentro do ônibus e com muita raiva daquele motorista que fez de propósito, parando no próximo ponto… Poxa, que custava parar? Deixar eu pegar, rapidinho, a sandália ainda quando estava perto do outro ponto?

Fui andando na rua e achava que todas as pessoas estavam olhando para mim, comentando, mas nem sei se estavam mesmo, pois não levantava a cabeça sequer para olhar em volta. Fui caminhando pela RuaTanque Velho atrás da sandália, mas quando cheguei no local, não estava mais lá. A raiva aumentou! Segurava o choro a todo custo!

Fiz o caminho de volta para casa e quando virei a esquina da RuaTanque Velho, vi o genro da Dona Helena na porta da locadora de vídeos (antigamente era bazar da Dona Helena, a sogra dele) e aturdida que eu estava, quase chorando pedi ajuda para ele, perguntando se ele tinha sandália nº 37 para me emprestar, que podia ser da esposa ou de uma das filhas dele, que eu não podia perder aula naquele dia.

Lógico que ele estranhou, não entendeu nada, acho que o assustei, pois ele me perguntou se eu estava bem, se queria que chamasse meu pai, minha mãe e eu disse-lhe que só queria ir para a faculdade, que estava sem um par de sandália e “blá…blá…blá…” E nesse momento já era choro junto com as palavras e ele não entendia nada do que eu falava. Mas a cara dele eu não esqueci até hoje! Quando lembro, dou risada, pois fez uma cara muito engraçada, mas que na hora não teve graça alguma.

Então, ele trouxe água para mim, pois eu estava muito nervosa, pedia para me acalmar, me abanava e eu tentava contar, as lágrimas rolando pelo rosto.

Por fim, ele conseguiu me acalmar um pouco, falou para eu ir para casa que eu não estava bem para ir à escola, me ofereceu carona e cheguei em casa.

Fui direto para meu quarto e chorei mais ainda, mas era só de raiva. Afinal, adorava aquela sandália, perdi aula e passei vergonha na rua!

Quando mais calma, contei a história para o pessoal de casa, mas quem disse que conseguia contar, pois conforme ia falando, comecei a achar graça da situação e conforme contava, eu mesma ria do fato, gargalhava, até que ajudou a passar mais a raiva.

Depois disso, encontrei o genro da Dona Helena que me olhava desconfiado, como se eu fosse maluca e era o que eu parecia ser naquela ocasião.

Contei para ele o que aconteceu naquele dia e foi então que me entendeu melhor e disse que ficou preocupado comigo, pois não entendia porque eu estava chorando e pedindo sandália nº 37, mesmo usada, numa loja de locadora de vídeos. História maluca mesmo!

Só posso dizer uma coisa depois disso tudo:

– "Ai que mico! Vira a página, fim da história"