Na quietude da madrugada, nas horas lentas que o tempo aos poucos vai avançando, lendo um dos meus poetas favoritos, encontrei esta bela narrativa, que, guardadas as devidas proporções de tempo e espaço, identifiquei-me como um protagonista da mesma e lembrei do tempo que do interior de São Paulo saímos e para a capital Paulistana, mais precisamente aqui pelos lados do Brooklin/Santo Amaro, viemos morar…
São Paulo, terra da garoa, ainda era uma incipiente, porém, dinâmica cidade, já prenunciando a Metrópole que viria a ser…
———————————————
SAUDADES DA MINHA TERRA
poema de Casimiro de Abreu
Eis meu lar, minha terra, meus amores,
A terra onde nasci, meu teto amigo,
A gruta, a sombra, a solidão, o rio
Onde o amor me nasceu, cresceu comigo.
Os mesmos campos que eu deixei criança.
Árvores novas, tantas flor no prado!…
Oh! Como és linda, minha terra d’alma,
– Noiva enfeitada para o seu noivado.
———————————————-
"Quanto tempo já se faz desde que aqui eu vim? Na fazenda onde eu nasci e passei os melhores momentos de minha infância, antes que a necessidade fizesse meus pais abandonar esta terra e enfrentar a cidade grande?
Tantos anos e, ao mesmo tempo, parece-me que foi ontem.
Não consigo deixar de sorrir ante as lembranças, quando abro a porteira velha e começo a caminhar pela estradinha de terra batida, onde muitas vezes corri descalço voltando de alguma aventura infantil…"
As belas linhas acima que encontrei, mas não as escrevi, levaram-me aos primórdios de nossa (irmão) infância, e lembrei-me:
Meu primeiro estilingue…
Era de forquilha bem simétrica de uma goiabeira, coisa rara de encontrar. Os elásticos eram de borracha de pneu (câmara) de carro e "funda" de couro. Foi e era o mais bonito estilingue de toda a meninada. Andava com ele pendurado ao pescoço e a todos meus amigos o mostrava com orgulho.
Era tradição, marcar com um risco, no cabo do mesmo, os passarinhos que abatíamos… e exibir para os outros como símbolo de "grande caçador"…
Saíamos para caçar, às vezes com uns amigos, às vezes com outros e sempre assim foi…
Certa ocasião, quando o deixei em algum lugar, meu amigo Juca, pegou-o e perguntou: – Cideme, por que seu estilingue não tem nenhuma marca?
Constrangido e sentindo-me diminuído perante os amigos, pois afinal o meu era o mais belo de todos, com tristeza respondi:
– É que nunca o usei, pois não tenho coragem de matar os passarinhos…
e-mail do autor: [email protected]