Mantras da cidade

– Pamonha, Pamonha, Pamonha.

Não, não estou xingando ninguém, não. Estou apenas entoando um som que se tornou bastante popular pelas ruas de nossa cidade. Quase um mantra. Quase não.

Essa chamada da pamonha, puro milho de Piracicaba, duvido que alguém nunca tenha ouvido.

Acho que a camionete com aquele sistema de som, digo, o alto falante no teto, anunciando a toda potência o famoso produto da culinária caipira, já foi vista por todo paulistano que se preze. A tal chamada se tornou um hit das ruas.

Tanto assim, que vira e mexe, parece que aquela "música" vem a minha cabeça. Virou mesmo, não quase, um mantra. Circula pela minha caixa de ressonância cerebral, me aguçando as papilas gustativas, me fazendo salivar que nem cachorro louco, louco pra comer uma pamonha.

Mas se esse talvez seja o top do top ten dos mantras entoados nas nossas ruas e avenidas, lembro-me de um rapaz que ficava na saída da estação do metro na Rua Xavier de Toledo, anunciando capas de eletrodomésticos. Esse não usava equipamentos eletro-eletrônicos pra fazer seu trabalho. Era no gogó mesmo. Na garganta.

Anunciava uma sequência frenética de capas. Uma verdadeira miscelânea. – Olha a capa da lavadora. Capa do DVD. Capa do controle remoto. Capa do celular, todas as marcas. Capa pra tudo que era coisa.

Parecia um locutor paranóico narrando uma partida de futebol. Ou um disco riscado, repetindo sem parar a mesma coisa.

Curioso é que o dia em que eu passava por ali e não o via, achava que ele tinha se adoecido ou que tinha sido preso por alguma blitz da Guarda Municipal, ou sei lá. Nunca pensava algo de positivo, tipo, que ele tivesse ganhado na loteria, ou tivesse vendido todo o estoque de capas e não precisasse mais ficar ali gritando alucinado, propagando seu produto sob o sol ou sob chuva. Outra curiosidade sobre ele, foi o dia em que eu o vi, debaixo de chuva, apregoando seu mantra, já quase tântrico, sem ao menos uma capa de chuva. Vai ver, que essa, capa de chuva, ele não tinha para vender.

Por falar em ganhar na loteria, nessa área, o mais entoado mantra é o Boooorboleta 13. Ou melhor: – Olha a booooorboleta treze! Olha a boooorboleta treze!

Esse me cansei de ouvir. Em tudo que era rua da cidade tinha um bilheteiro vendendo a booooorboleta treze! Conheci, digo, conheço até um bilheteiro, o Mineiro, que com seu jeitinho de mineirinho tem cativa sua freguesia. Não é mesmo, Doctor Paulus!

Mas já não vejo tantos bilheteiros nas ruas como antigamente. Talvez sejam seres em extinção como os bichos dos números dos bilhetes e principalmente as borboletas. Talvez o Ibama tivesse que tomar alguma providência visando a preservação da espécie. Deveriam interceder no governo para bloquear a criação de tantos jogos, pois agora é Megasena, Megaloto, Lotomania, Loteria Esportiva. Os coitados dos bilheteiros de rua é que tiveram que manter a esportiva com tanta loteria do governo.

Bom, quer saber. Vou parar de escrever pra poder comer em paz minha pamonha, com o puro milho de Piracicaba. Servido, sô!!!

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