Luzes da cidade

Quando eu tinha sete anos (1947), meu pai levava-me sempre a passear no centro de São Paulo: Praça Patriarca, Rua Direita, Rua São Bento, etc.

Eu adorava passear na cidade, para mim era uma festa! Eu gostava de ver o povão indo e vindo, a correria das pessoas para o trabalho, os poucos ambulantes vendendo as bugigangas (cortador de unha, canivetinhos, barbatanas que se usava na época para colocar nos colarinhos, etc.).

Eu gostava de ir na Xavier de Toledo, em frente a Ligth, comprar ou trocar gibis usados num sebo quando chegava o fim de semana. Os meus pais já gostavam mais de sair à noite, pois íamos ao cinema: Cine Odeon ou Cine Royal, que era na Sebastião Pereira, em frente às lojas Clipper. Depois íamos comer uma pizza ou uns doces.

Todos os fins de semanas eram sempre recheados desses belos passeios. Hoje não teríamos condições de passearmos sossegados à noite pela cidade. Eu gostava de passear á noite para ver os letreiros luminosos.

Lembro-me do letreiro do café Paraventi: tinha a figura de um guarda civil de luvas brancas tomando um cafezinho, fazendo sinal para parar.

Havia também o letreiro do óleo Maria, os letreiros dos cinemas… Era uma maravilha, a cidade ficava toda iluminada!

Este passeio aconteceu há 62 anos atrás, mas eu lembro como se fosse no dia de hoje.

Os meus pais e meus quatro irmãos já são falecidos, mas eu nunca esqueço de minha querida família que hoje está passeando e vendo os letreiros do céu.

Hoje em dia, a cidade não é a mesma. Mendigos dormindo na Rua 7 de Abril e à noite é uma escuridão. Não existe nenhum letreiro. Não têm mais os letreiros dos cinemas… Aliás, os belos cinemas nem existem mais (Metro, Marrocos, Olido, Cinerama, Regina, Ipiranga, Paissandu, Rivoli, Broadway – esse último, antes de iniciar a sessão, exibia um arco-íris de luzes em volta da tela).

Sinto uma saudade das luzes da cidade…

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