Nasci em Pinheiros, na Av. Henrique Schaumann. Eu tinha dois anos quando nos mudamos, pois ocorreu uma desapropriação. Fomos morar no Jardim Peri Peri. Uma casa térrea de dois dormitórios, um quintal grande, poço artesiano, portões baixos e um banco no jardim. Ninguém sabia onde era. Minha mãe ficava sozinha, com muito medo, e duas filhas pequenas enquanto meu pai cursava faculdade à noite. Era uma avenida escura, com poucas casas.
A Avenida Ministro Laudo Ferreira de Camargo começava no pé do morro abaixo da Rodovia Raposo Tavares e terminava no Rio Pirajussara, atual Avenida Eliseu de Almeida. Para chegar nessa rua pela Raposo Tavares, os motoristas tinham que esperar na rodovia e atravessar sem nenhuma segurança. Para quem vinha da Vila Sonia, tinha que atravessar uma pequena ponte por cima do rio. Lá não tinha nada, somente o bar do Sr. Moreira e Dona Maria. Um casal de portugueses, sem filhos, que mantinham o bar no andar de baixo e moravam no andar de cima, eram donos de alguns imóveis no local.
Meus colegas no colégio perguntavam onde eu morava, quando eu falava o nome do bairro todos faziam cara de espanto, pois nunca tinham ouvido falar. Eu e minha irmã crescemos nesse bairro e moramos lá por 23 anos. Andávamos de bicicleta dando voltas no quarteirão, brincávamos no jardim, sem os perigos de hoje em dia. Com o passar do tempo, a avenida foi melhorada e começou a surgir o comércio. Nos dias de chuva forte, nós corríamos para a janela para ver a enchente. Já vimos muitos carros sendo carregados pela água, muita gente que perdia tudo. Minha mãe costumava socorrer algumas famílias que eram tiradas de suas casas de barco pelos bombeiros.
Aos poucos, o comércio cresceu. O Pontilhão abaixo da Raposo foi construído, permitindo que os veículos pudessem se deslocar para o Jd. Bonfiglioli com mais segurança. Não era mais preciso atravessar a rodovia, utilizávamos o retorno por baixo do viaduto. O Rio Pirajussara foi canalizado e surgiu a Avenida Eliseu de Almeida. Finalmente, tínhamos um ônibus na avenida. Vejam hoje aquele bairro, aquela avenida. Ela está repleta de comércio por todos os lados, padarias, farmácias, bancos, açougue, oficinas, restaurantes, papelaria, lojas e muitos outros. O trânsito local é intenso e as enchentes mais remotas. Quem te viu e quem te vê…..