A história dos grandes homens está sempre relacionada com seus feitos, idealizados pela estrutura familiar duradoura, onde o patriarca torna-se presente na formação dos filhos, e que os antigos denominavam de "berço", o rígido sistema de "torcer o pepino" antes de "maduro", observando a criança de perto pela suavidade materna, mas nunca conivente com traquinices, onde a correção era exemplar.
Assim era a criação de então, onde o menino Frederico Grassmann, de origem germânica, nascido em Santo Amaro, em 09 de novembro de 1897, sendo filho de Henrique Grassmann e Dona Louise Grassmann, veio ao mundo.
A família unida preservou os preceitos da honradez e dignidade ao trabalho, dando continuidade ao nome Grassmann, sendo que Henrique e Louise ainda tiveram outros filhos, que completaram a família com a vinda de Henrique, Luiz, apelidado de Lut, Carlota Olga e Margarida.
O marco da imigração alemã foi iniciado no século XIX, mais precisamente na Colônia Paulista, datada de 1829, na Cidade de Santo Amaro, que, até 1935, era Município independente da Cidade de São Paulo.
A família Grassmann fixou-se inicialmente à Rua Belchior de Pontes, onde Frederico, com Vitalina Roschel, formou nova família, dando continuidade aos nomes respeitáveis de ambas, com os filhos Walter, Vilma, Nair e Edite. A partir de 1931, resolveram fixar residência num local aprazível, após o Rio Pinheiros, à época ainda pouco explorado, rodeado por Mata Atlântica exuberante, que continha a vazante das cheias pelo Rio Pinheiros que alimentava o represamento da Billings, da moderna Usina Hidrelétrica Henry Borden, e que dava toda beleza ao local com a "Riviera Paulista", denominação da Orla da Represa Guarapiranga.
Tudo era convidativo, sendo o local um verdadeiro mirante a perder-se no horizonte com toda vista da Cidade de São Paulo, recebendo o lugar o nome de Jardim Mirante, pois dava uma visão de boa parte do Planalto Paulista. Neste local, onde hoje está localizado o Jardim Monte Azul, entre as atuais Ruas Vitalina Grassmann e Tomás de Souza, Frederico Grassmann adquiriu área nas imediações de uma nascente de águas cristalinas, que ficou conhecida como "mina" pelos poucos moradores da região. O riacho era ladeado por acácias e por árvores frutíferas a formar, com suas copas, sombras nas águas, como uma enorme mangueira, tombando deliciosamente suas folhagens próximas ao riacho, e na época de dezembro fazia a alegria da gurizada, com seus frutos em início de amadurecimento. Era um verdadeiro bosque, um oásis em forma de pequeno vale, todo gramado, cortado por um riacho que deslizava suave ao encontro do Rio Pinheiros.
Neste local, a família Grassmann criava animais para consumo próprio, como patos, galinhas marrecos, vacas. A comida era farta e saborosa, pois, inspirada na culinária alemã, era preparada em fogão a lenha, o que dava um sabor peculiar aos alimentos graças às mãos habilidosas de Dona Vitalina. Além de ajudarem nos afazeres da casa, os filhos do casal também se dedicavam aos estudos, frequentando o Colégio Deustch Schule de Santo Amaro, mais tarde denominado Humboldt, colégio localizado em terreno cedido por Henrique Grassmann, conforme relatado, no baixada da Rua da Matriz.
Atualmente, o Colégio Humboldt encontra-se instalado em modernas instalações no bairro do Rio Bonito. Seguindo uma das tradições alemãs, nas proximidades da Chácara Panamby, próximo à antiga Estrada do Morumbi, Frederico Grassmann, em conjunto com seu irmão Henrique e o cunhado Bruno Hochhein, idealizaram a Fábrica de Aço Grassmann.
A indústria especializou-se na fabricação de ferramentas com o mais fino aço, gravado com a letra "G", maiúscula de "Grassmann", que se tornou sinônimo de qualidade. Eram foices, facões, enxadas, aros de rodas e uma gama de outras peças de carrocerias que estava associada à empresa como complemento das atividades de ferreiro, completada por uma marcenaria que atuava na manutenção de veículos puxados a cavalo, que faziam trajeto de São Paulo a Santo Amaro, indo para o interior, em Itapecerica da Serra e outras regiões.
Onde antes estava a citada empresa, mais tarde foi implantado a Companhia de Acumuladores Prestolite, para fabricação de baterias de finalidade automotiva. Depois a área acolheu uma escola de equitação, embora houvesse comentários de que a área estivesse contaminada por produtos pesados como chumbo e ácidos usados na antiga fábrica.
Hoje há no local um moderno shopping que ocupa toda área que um dia tornou-se pioneira no ramo da fabricação de peças em metal com forjas acionadas por enormes foles que insuflavam ar em fornos modelo catalão, alimentados por carvão vegetal, com o aço sendo moldado em bigornas com golpes precisos em peças úteis para a agricultura, isto nos caminhos do Morumbi, na atual Avenida Giovanni Gronchi, na esquina dos encontros das avenidas João Dias e Itapecerica da Serra, acesso ao interior paulista, na zona do extremo sul da capital.
Santo Amaro fez parte da vida de vários imigrantes e outros descendentes Grassmann, e de Frederico, que andava por suas ruas com seu Ford bigode, passando pelo Largo da Matriz, nas proximidades do atual Largo 13 de Maio, acessando a Avenida João Dias, dirigindo-se à Penhinha, da pequena capela branca de Nossa Senhora da Penha, testemunha de uma época que não suportou o "progresso" de São Paulo, sendo a mesma demolida em maio de 1973, além do "Cortume Dias", com grafia antiga, que fez parte de uma época de muito trabalho e realizações, e que, na atualidade, é o complexo do terminal de ônibus João Dias e da linha cinco do metrô, sendo o bairro de Santo Amaro modernizado com novo complexo e revitalização, mas que arcará com as transformações do bairro que um dia foi interior de São Paulo e de um modo caipira de ser.
Frederico Grassmann teve seu passamento em 02 de julho de 1976, aos 78 anos de idade e que, justamente, tornou-se logradouro de rua que anteriormente era designada pela numeração de "Rua 44", oficializada como "Rua Frederico Grassmann" pelo decreto número 14.958 de 03 de março de 1978.
As histórias dos subúrbios paulistanos são feitas destes heróis eternos!
Vitalina Grassman nasceu em 19 de novembro de 1898. Dedicou parte de sua vida em prol de obras assistenciais. Faleceu em 10 de Julho de 1976.
E-mail: [email protected]