Duplas famosas…

Roberto e Erasmo, Lennon e McCartney, O Gordo e o Magro, Mickey e Pateta e tantas outras, famosas ou não, fizeram e ainda fazem parte de nossas histórias e do nosso cotidiano. Seja na música, nas aventuras e até no coleguismo, as duplas estão sempre presentes.

Na fronteira de minha infância para a adolescência, não fugi à regra de eleger um amigo inseparável, companheiro de todas as horas, um amigo de fé, irmão, camarada (transcrevendo o verso da canção do "rei"), com quem dividia as alegrias e as angústias (graças a Deus foram mais alegrias do que tristezas).

Pequeno, franzino, cabelo lambido e franjado à "la beatle", uma cara de "fuinha" (desculpa Zé, não pude evitar – rsrsrsrs), mas um cara de boa índole e de coração mole (segura o infarto, rapaz).

Não ame recordo de como começou a nossa amizade. Quando percebi, eu já fazia parte de sua pequena família e ele da minha. Dona Nair, sua mãe, uma senhorinha de pequena estatura, mas muito enérgica, fumante inveterada dos cigarros "Continental” – a preferência nacional – e sem filtros, suas irmãs Diana e Cristina (por quem eu escondi uma paixão platônica – ninguém soube disso, confesso agora) e, posteriormente, seu cunhado Pedro (esposo de Diana), que veio somar à família.

José Mendes Poletti, ou simplesmente Zé Mendes, como todos o chamávamos (e ainda o chamam), dividiu comigo os bons momentos que precederam a minha partida para a Bahia, lá pelos finais de 1973. Éramos como irmãos quase siameses, tamanha a empatia que nos unia. Nutríamos as mesmas paixões automobilísticas (ele gostava dos Karmann Ghias e eu dos possantes Dojões e Landaus). Nos amores juvenis, nunca conflitamos. Cada um tinha a sua namoradinha e flertávamos de montão.

Um episódio que muito marcou em nossas vidas foi quando estudávamos no Marina Cintra (isso lá pelos "perigosos" anos da revolução estudantil, em 1968), e a nossa turma (eu, ele, Maria Leonor, Célinha, Alemão, Labadia, Sebastian, Rubens Campos e mais uma "pá" de gente) fizemos parte do Clube da Madre Ester, no Des Oiseaux (hoje, infelizmente demolido, por conta das sandices intoleráveis dos precursores das "modernidades" desfigurativas dos valores e da história paulistana).

O Des Oiseaux era uma instituição de ensino (chamá-lo de colégio seria um sacrilégio), exclusiva para meninas e com uma disciplina bastante rígida. Havia um anexo, com entrada independente pela Rua Caio Prado, que servia para atividades lúdicas e pequenas festividades. A madre Ester (saudades dela), uma freira muito à frente de seu tempo, dado à sua argúcia e lucidez, fez-lhe um convite para reativar aquele espaço onde, nós, com a nossa turma, seríamos os responsáveis pelas atividades de reuniões, festividades, comemorações e até uns bailinhos inocentes ao som de Roberto Carlos e Beatles.

Todos contribuíamos com quantias simplórias que, imediata e irremediavelmente, eram "depositadas" nas grossas meias da madre Ester. Era uma pequena verba que serviria para os gastos com as instalações de qualquer evento que fosse ali realizado. O único que não precisava contribuir financeiramente era o presidente, que nesse caso era eu.

Fizemos e tivemos muita atividade naquele que chamávamos de o Clube da Madre. Passeios, encontros, aniversários, datas comemorativas (celebramos uma certa vez o Dia das Mães e sem nos esquecermos até das mães que já não estavam mais conosco – os orfãos se emocionaram muito). Bailes com luz negra (que a madre não aprovava, mas fazia "olhos de mercador", já que a receita crescia).

Tudo era diversão e alegrias. Havia o respeito e a consideração. Nada de vícios mais fortes como as drogas. Só uns cigarrinhos inocentes e mais nada. Bebidas, nem pensar. Os guaranás e as cocas-cola faziam as honras das festas.

Nesse período, o Zé Mendes morava no segundo andar do Edifício Monções (o conhecido "Bolo de Noiva" no viaduto Jacareí). É um prédio de vinte e quatro andares, com três alas distintas e apartamentos com um, dois e três quartos (a depender da ala). Em seu topo existe uma área, tipo playground, e um enorme salão de festas. Na esquina da Rua Santo Amaro tem outro similar. Quando não estávamos lá, estávamos em minha casa, na Rua Santo Antonio. E, tanto lá como cá, planejávamos os nossos roteiros de estudo, namoros, passeios etc.

Num desses passeios nossos, nos dirigimos, de trem, para a baixada santista atrás de uma paixão louca do Zé. Chegamos a um pequeno lugarejo por nome de Itapema (vila de pescadores e estivadores), lá pelos lados do Guarujá.

Sem sucesso em nossa (dele) busca, partimos para praia. O resultado dessa caminhada nos levou até Praia Grande (não me lembro se foi no mesmo dia. Me ajude aí, Zé). Literalmente, fomos a pé da Biquinha de São Vicente, atravessando a Ponte Pencil, até chegarmos na Praia Grande (chegamos?). Tudo porque o congestionamento era monstro e tomar uma condução era quase que impraticável.

Como diz o Luciano Huck – "Loucura, loucura no Caldeirão" – essa nossa "louca aventura" hoje é memória gostosa em minha mente, dentre outras.

Casei-me, e a vida a dois logo seria a três. Com o nascimento de Michel, meu filho mais velho (tenho mais dois, Isac e Andreia), fez-me tomar outro rumo na vida. Agora eu era pai e responsável (responsável?).

O desenrolar dessa história criou não um ponto final, mas um ponto parágrafo que um dia espero abrir quando for a São Paulo e sacudir a poeira do passado, que se assentou nesse baú de histórias de uma juventude saudável, "maneira" e cheia de durezas (em se falando de "grana"), mas, com toda a certeza, repleta de saudades. E bota saudades nisso.

Zé. Não tenho em mãos nenhum presente material para te oferecer. Essa história é só um capítulo de nossas vidas e é para mim uma viva lembrança de nossa amizade e que te ofereço.

Um forte abraço, amigão.

Nelsão do Bixiga.

P.S.: Leia junto com a Cecília e o Du. Deus te guarde e a todos os teus.

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