De repente eu me encontrei

Como se eu tivesse pulado de um balão de ar quente…algures numa cidade gigante…uma pequena praça, uma árvore enorme, um expresso quente.

Gente barulhenta ao meu redor, cuja língua eu não entendia. São Paulo.

Minha tarefa era achar um teto para nós dois, um apartamento onde eu quiser…
Com rigor germânico decidi adquirir um mapa da cidade — o que não era fácil de achar nos anos noventa — e tentei de me orientar.

O que se escondia por trás dos nomes Bixiga, Brooklyn, Santana, Ó ou Jardim Santa Ângela? Jardim significava parque ou área verde — isto eu já sabia…

A pequena praça, onde tomamos nosso café no primeiro dia, eu gostava…ali eu poderia viver…mas como era mesmo que se chamava o bairro?

Dobrada sobre o meu mapa tentei achar estações de Metro, pesquisar linhas de ônibus,
queria ser independente do carro…..dissecando a cidade em quadrantes-áreas verdes- teatros- museus- mas, não tinha outra: precisava um corretor de imóveis!

E agora começaram as viagens através de São Paulo. Vai e vem e sempre eu me encontrava em Morumbi…ruas espaçosas, belos jardins, casas enormes.

Mas como é que se chamava a pequena praça onde tomamos nosso primeiro expresso?

Eu simplesmente não consegui me lembrar, e os numerosos corretores se eximiram. Assim continuei a ser arrastada pela cidade.

Brooklyn eu deveria gostar, lá moram tantos alemães…Santo Amaro…ahh, você quer viver mais central? Porque não Itaim, o melhor shopping..!!!

Então, finalmente consegui detectar a minha praça no mapa…era lá onde eu queria morar, ali ou em lugar nenhum. E mais uma vez, o corretor disse não:
“Os apartamentos lá são muito grandes, muito velhos e precisam de reformas enormes”. Mas ninguém conseguiu de me desencorajar. A última casa onde eu vivia em Hamburgo era do ano 1800!

E chegou o dia quando achamos uma mini-cobertura, um mini-loft….um sonho para alugar para apenas um ano…a proprietária estava no exterior.

A pequena mercearia ao lado era cheia de surpresas. Arenques, pão preto, repolho vermelho em conservas, pãezinhos fresquinhos de papoula….meu coração de norte-alemã pulou!

A explicação veio no sábado seguinte…de repente, perto de meio-dia, a nossa rua se encheu de pessoas cuidadosamente vestidas: as mulheres em saias longas e blusas brancas com crianças igualmente produzidas — as meninas com saias floridas, os rapazes com terninhos escuros — e senhores vestidos de preto com chapéus imponentes, só os caracóis longos balançando com cada passo. Era fim dos cultos das quatro sinagogas que se encontraram na vizinhança.

Poucos meses depois assinamos o contrato de compra para um apartamento grande, velho e com a necessidade de uma reforma profunda. Nosso ninho onde já vivemos faz 13 anos.

São Paulo tem espaço para todos; para todos vivendo lado ao lado.