Cornetada

Aprendi a tocar corneta no Grupo de Guardas Mirins da Sociedade Amigos da Vila Corberi. Tinha muito orgulho deste fato, pois eram poucas as coisas em que eu me destacava dentre os demais garotos da minha turma, lá no Morro do Falcão.

Quando entrei no Emília para cursar o 1º ano do Ginásio, aos 13 anos de idade, cai na Primeira G e lá encontrei e comecei a formar meus amigos do Ginásio. Haviam alguns repetentes, mais velhos: o Welington Ceabra Serapião, o Valdir Siqueira e outros dos quais não lembro os nomes.

Sempre fui um aluno mediano, sem grandes destaques, diferentemente de minha irmã Ana, que não aceitava tirar uma nota menor que 10, e “ai” do professor que ousaria em lhe dar uma nota menor! Ana sempre foi destaque no Emília por suas notas e por seus discursos e declamações empolgadas durante as datas comemorativas.

Datas comemorativas. Estava chegando a mais importante de todas: o 7 de setembro. E nesta data o Emília desfilava pelas ruas de Itaquera, que naquela época, não eram asfaltadas.

O grande diferencial no desfile era a Fanfarra. Os alunos que dela participavam tornavam-se destaques e ganhavam importância junto ao grupo.

Chegou minha oportunidade quando o Paulinho (Paulo Douglas Primeirano) deu um aviso na classe que o instrutor da Fanfarra estaria selecionando e recrutando alunos que soubessem tocar, para um teste durante a tarde.

Naquele dia, nem retornei para casa! Fiquei direto na escola, esperando a hora. Quando um tal de Lucho apresentou-se como instrutor da fanfarra e foi pedindo para os candidatos informarem qual seria o instrumento que pretendiam tocar, eu falei de boca cheia e peito estufado "corneta", que era o principal instrumento. Fomos para o teste e três corneteiros foram aprovados: o Quim o Porrete e eu.

Recebi a corneta e pude levá-la para casa para ensaiar "Marcha Batida, 9 de julho e Aida", pois no dia seguinte os ensaios teriam início.

Dia do ensaio. Fui orgulhoso para a escola com a corneta na mão e pelo caminho ensaiava alguns toques (modéstia ao lado, eu tocava bem).

A primeira aula foi de inglês com o Jacob. Não podia ser pior. O Badolato pegou a corneta que estava embaixo da carteira e, mesmo contra minha vontade, deu um tremendo toque quase ensurdecedor na sala de aula. Os dois e a corneta para a diretoria. Seu Mário, inspetor de alunos, faltou nos levar pelas orelhas. Badolato confessou ao Seu Luiz que fora ele quem dera o toque e, em consequência, ficou de castigo na diretoria até o final da aula. A mim, o castigo doeu mais. Minha corneta foi confiscada e eu excluído da fanfarra.

Voltei a ser um “Zé Ninguém”. Do estrelato ao anonimato em apenas dois dias e tudo em função de uma cornetada.

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