Copa de 1950, do que me lembro

Em 1950 meu tio Mané me levou ao Pacaembu para assistir Uruguai x Espanha. Era um domingo que começou com tempo fechado mas logo o sol apareceu… Aquele solzinho de inverno, até que um pouco frio. Um sol que não aquecia. 

Chegamos ao Pacaembu era meio dia, mais ou menos, e ficamos esperando abrir as bilheterias. Acho que abriu por volta de 13h30. Havia uma fila normal, sem empurra-empurra, claro que cheia de “hermanos” da banda oriental e “señores” de Castilla la Vieja, Aragon, Galicia… E muitos brasileiros.
 
Prá ser sincero, para nós, aquele era mais um torneio com a Seleção do Brasil e seleções estrangeiras. Nada de muito importante e, além do mais, em relação à Seleção Brasileira, havia o problema do bairrismo exacerbado com a escolha dos jogadores pendendo para o lado do Rio de Janeiro, com o time tendo por base o Vasco da Gama, o expresso da vitória.
 
Me lembro do Antonio Cordeiro da radio Nacional do Rio justificar o “encariocamento” da Seleção com o seguinte argumento: "Ninguém conhece os jogadores de São Paulo, de Minas, do Rio Grande…" Aquela foi uma época em que o Brasil treinava contra o Torres Homem, um time de várzea de Niterói presidido por um diretor da CBD… Creio que deveria haver uma graninha por fora para "pagar despesas”, etc, etc…(cala-te boca!).
 
Uruguai e Espanha ficaram no 2 a 2 num jogo horrível, se eu estou bem lembrado; o Brasil jogou contra a Suíça, também no Pacaembu, com um time considerado reserva, ou melhor, com um time montado “nas coxas” (perdão pelo calão!) e também empatou por 2 a 2…
 
No Rio, após a goleada contra a Espanha, o time saiu do Hotel das Laranjeiras, um local sossegado, na floresta, e desceu para São Januário, dependências do Vasco da Gama.
 
Era época de eleições, inclusive eleições presidenciais, e políticos do Brasil todo vieram para o Rio para serem fotografados com os jogadores; Flávio Costa, o Alicate, era o nosso técnico, candidato à vereança do Distrito Federal e articulador das entrevistas, fotos e filmagens com os políticos. 
 
Zizinho, talvez na última entrevista em profundidade dada por ele para um órgão de imprensa, no caso a para a ESPN (tá no youtube) afirmou que em 3 dias, se ele dormiu 20 horas foi muito. A revista "O Cruzeiro" levou os jogadores, na madrugada do dia do jogo contra o Uruguai, para um estúdio para serem fotografados uniformizados e com a faixa no peito… E deu no que deu! 
 
Bigode não conseguiu marcar o Gighia, faltou-lhe pique, velocidade e, de repente, lá veio a bomba, chute cruzado, que o sonolento Barbosa, mesmo estando bem acordado, não conseguiria defender.
 
Fala-se muito de 1950, mas também em 1954 a desorganização “comeu solta”. Jogadores preferidos por Zezé Moreira como titulares e Julinho, Cláudio, Baltazar, Djalma Santos, entre outros, ou no banco ou não sendo convocados. A Copa terminou tristemente para nós com a "Comissão Técnica" partindo inteira para cima do "referee", Zezé Moreira com uma chuteira na mão, como um malandro do morro e seu chinelo “Charlot”, avançando contra a polícia da Suíça; Paulo Planet Buarque fotografado e filmado distribuindo rabos de arraia no gramado… Vergonha!
 
Eu me abstenho de escrever em datas especiais, efemérides, dia das Mães, dia dos Pais, dia das Sogras e outros dias (inclusve Natal, Ano Novo e outros), mas estão escrevendo tanto sobre essa Copa de 2014 e sobre 1950 que resolvi deixar minha postura de molusco e relembrar certos fatos…
 
Talvez eu ainda volte ao assunto, sei lá!