Como eu queria…

Domingo, dia 16 agora, jogou Corinthians e Palmeiras. Não há nada mais paulistano, no jogo da bola, que este jogo.
 
"Salve o Corinthians, campeão dos campeões" ou "Quando surge o alviverde imponente". Tempos atrás, quando se aproximava este jogo, eu já ficava pensando nele e em como fazer para chegar ao Pacaembu em tempo de arrumar um bom lugar. Como corintiano, gosto mais do "Salve o Corinthians", mas por um tiquinho não sou palestrino e aí gostaria mais do "Quando surge o alviverde imponente". Sou corintiano porque o meu tio Michele (pronuncia-se Miquele), imigrante italiano, foi um dos que, com outros italianos, em 1910, no Bom Retiro, na Rua dos Italianos, fundou o Corinthians.
 
Sim, o Corinthians foi fundado por italianos. Acontece que os italianos que vinham para o Brasil eram pessoas simples, que estavam passando por dificuldades em seu país, e então o Corinthians foi o primeiro time de gente simples de São Paulo. Os outros eram da elite. Desta forma, logo aos italianos simples, juntaram-se outros simplórios e aí uma parte daqueles que haviam fundado o Corinthians, italianos, acharam que o time tinha se descaracterizado, deixado de ser um time da colônia e saíram para fundar o Palestra Itália. Já puseram este nome, para deixar bem claro que era um time de italianos, onde se "parlava de Itália". O meu tio manteve-se fiel ao Corinthians e o meu nono, Marco, que era irmão mais novo dele, também ficou com o Corinthians, e assim nasceu minha mãe corintiana e nós, eu e meus irmãos, ficamos corintianos.
 
Mas, e se meu tio Michele tivesse ido para o lado de lá? Hoje eu seria palestrino e não seria nem melhor e nem pior do que sou, porque não importa para quem você torce, corintiano, palestrino, são paulino, santista, lusitano, ou seja lá o que for, ou não for, o que vale é a pessoa. Mas tem gente que agora não pensa assim, por isso que eu queria, mas não posso.
 
Como queria ir ao campo, tomar guaraná, comer amendoim, chupar um picolé. Vibrar com o gol marcado, lamentar o perdido e maldizer o tomado. Xingar o juiz, sempre o culpado de tudo, e no fim do jogo voltar para casa. Como queria já ter levado meu filho adolescente para assistir a um jogo comigo. Como queria levar o meu netinho de sete anos para ver o "Curintia", tal qual o meu nono Marco fazia comigo.
 
Mas eu não posso. Porque hoje torcida tem dono. O nome do dono é “Organizada”. Organizada da violência, da bagunça, do desrespeito, da falta de civilidade, de desportividade, e da total desorganização de qualquer sentido de esportividade.