<br>Nos inícios dos anos 70 deixei minha querida Vila Prudente e mudei-me para a Vila Mariana. Como um bom recém chegado, passei as primeiras semanas descobrindo os segredos da nova morada. Pesquisei por estabelecimentos comercias. O melhor tintureiro, a pastelaria, mais famosa, descobri que os quibes e esfihas mais famosas de São Paulo podiam ser encontradas na Rua Domingos de Morais, encontrei um tradicionalíssimo restaurante de frutos do mar, uma pizzaria que de tão antiga que me pus a duvidar que a pizza tenha sido criada em Nápoles. Fui também informado de que o mais conhecido e tradicional barbeiro era o Chiquinho.<br><br>Lá fui eu conhecê-lo, pois todos sabemos que o corte do cabelo é muito pessoal, e o "Fígaro" eleito costuma acompanhar o trato em nossas pelugens pelos anos afora.<br> <br>Cheguei na Rua Rio Grande, quase esquina com a França Pinto, e lá estava a placa. "Barbearia Chiquinho". Adentrei no salão, um senhor de cabelos grisalhos aparentando ter passado dos 50 anos, e que me cumprimentou amavelmente. O seu aspecto do profissional já rodado em muitos anos de experiência inspirou imediata confiança.<br> <br>Era o Chiquinho. Gostei do seu jeito, resolvi aparar o cabelo e entabulamos conversa. Chiquinho me contou que já tosava cabelos ao redor de trinta anos. E que por suas mágicas tesouras haviam passado ilustres cabeleiras, de artistas, músicos, e até políticos, nos tempos que estes ainda freqüentavam salões de barbeiro. Morei na Vila Mariana por dezessete anos, mantendo a fidelidade com o modesto Chiquinho.<br><br>Por razões profissionais novamente tornei à estrada indo aportar no Paraná. Isto há mais de vinte anos. Há pouco tempo, antes do último Nata, em passando por São Paulo, pela Rua França Pinto, chamou-me atenção uma placa que me pareceu ser velha conhecida Barbearia Chiquinho. Olhei dentro do estabelecimento e vi um senhor de cabelos grisalhos que eu conhecia. Passaram-se quase quarenta anos desde que eu o vi pela primeira vez. Custei a acreditar, mas lá estava Chiquinho, cortando cabelos, com quase 100 anos de idade!<br><br>Admirável como pessoa, como profissional e que tão dignamente mostrou o valor do trabalho probo, não refugando-o mesmo com o legítimo direito ao lazer após tão longos anos de labuta, tão diferente do que se soe ver atualmente com aposentadorias sendo atribuídas pelas mais originais e improváveis razões.<br><br>Parabéns Chiquinho, você é esplêndido. <br><br><br>E-mail: [email protected]