As noites de sábado… Ah, que maravilha eram as noites de sábado. Saíamos em uma turminha de quatro ou cinco amigos, e percorríamos as ruas do Campo Belo e Piraquara, à procura dos inconfundíveis sons da antigas vitrolas, tocando os long plays do Ray Conniff, Nico Fidenco, Ray Charles e inúmeros outros que encantaram nossa juventude.
Passávamos em frente de uma casa e víamos acesas as luzes da garagem, com suas portas abertas. Batata! Ali haveria um baile de aniversário, ou de pré-formatura, ou simplesmente um baile. Íamos reunir amigos e, nada mais natural, que meninas e meninos a cata de um romance.
Era assim, frente a frente, corpo a corpo, que se iniciavam os namoros. Embora, muita vezes, era assim que eles também terminavam.
Nada de internet, nada de shopping, pois essas coisas não existiam. E poucas pessoas tinham telefone, portanto, se encontrar em reuniões era fundamental para qualquer relacionamento.
Quase nada superava a visão maravilhosa de uma garagem cheia de meninas, com seus vestidos bonitos, cabelos bem arrumados, perfume de vários aromas, e, sobre alguma mesinha, a infalível combinação de coca-cola com rum e uma rodela de limão. Pena que o rum quase que se perdia num mar de coca cola.
Nessa mesma época, lembro que o Campo Belo nada mais era que uma simples parada de bonde, na esquina da Rua Rui Barbosa, em frente ao Erick Bar, tendo suas ruas sem asfalto e sem maiores urbanizações. A única rua asfaltada ou calçada era a Maracatins. Assim, o pão chegava às casas através da carroça do padeiro, um português, que diariamente percorria as ruas do bairro gritando:
– Olha o padeiro! Padeirito!
E todas as donas de casa saiam às portas, e logo se formava uma rodinha em volta da carroça. Quando o “padeirito” abria sua caçamba era um perfume indescritível que enchia a rua. Cheiro de pão quente: pães doces, maria mole, bisnaguinhas doces, e dos inesquecíveis bebês, que eram brioches, ou pequenos bolos, que tinham um sabor e cheiro não mais encontrado nas receitas atuais. Era tão bom que a maioria das crianças comia até a forminha de papel.
Belos tempos, que pouco a pouco foram desaparecendo. O bairro crescendo. O progresso chegando. A valorização dos terrenos aumentando. Os primeiros prédios sendo construídos. Os campinhos de futebol rareando. E a grande maioria das casas sendo transformadas em comércio.
Ainda bem que as fotografias nos fazem reviver aqueles momentos, onde o ar cheirava a gerânio e giesta.