Belas Artes, o cinema

Pouco mais de um ano atrás soube da produção de um filme brasileiro sobre o bairro da Tijuca, no Rio. Perdoem-me por iniciar um assunto “extra-metrópole”, mas é necessário ao bom andamento da história: a Tijuca é um bairro tradicional da Zona Norte do Rio, região mais injustiçada da cidade. Seus moradores, tamanho o bairrismo (salutar), denominam-se "tijucanos", a exemplo do que ocorre aqui em SP com a Mooca (mooquense) e com o meu Ipiranga (ipiranguista).

Tanto por apreciar histórias de amor por bairros tradicionais da cidade (sempre injustiçados, desprestigiados pelo Poder público que prefere olhar para regiões nobres, alvos das construtoras e incorporadoras), como também por ser fiel frequentador da Praça Saens Peña ("centro" do bairro da Tijuca), resolvi assistir ao filme.

Para tanto, saí de meu prédio, atravessei a Avenida Dom Pedro e fui até a banca comprar jornal. Percebi então que, ao contrário do "Avatar", que passava em mais de cinquenta cinemas diferentes; meu nacional, modestamente, só era exibido em uma sala: Cine Belas Artes.

Fui até lá, de ônibus/metrô, e pude apreciar o clima de "cinema alternativo e de bom gosto" que tomava conta do ambiente. Poucas pessoas dedicaram seu precioso tempo com o filme, o que é até compreensível, dada a especificidade do tema. O fato é que, os paulistanos que, naquela tarde, queriam ver um filme nacional de baixa projeção (embora grande qualidade e ótimo enredo, contando até com a participação do genial compositor Aldir Blanc) e não perder seu tempo com um blockbuster qualquer, tinham o “Direito á Opção” (assim mesmo, em maiúsculo, por favor).

Como todos devem ter acompanhado, o cinema fechou, pressionado pelo proprietário do imóvel, ávido pelos aluguéis não pagos, e o antigo prédio, quase na esquina da Consolação com a Paulista, desconsola a todos os que apreciavam a sétima arte. Resta absurdamente degradado, com a fachada marcada pelo abandono.

Seu tombamento, imperativo como contraponto aos "cinemas de shopping", que só exibem produções megalomaníacas e altamente rentáveis (blockbusters), vem sendo discutido pela Administração Municipal.

Este é um exemplo de como estamos, gradativamente, perdendo nosso sagrado "Direito á Opção".

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