Aventuras com Crush

Ah que saudades<br><br>Ao recordar de minha primeira sessão de cinema no meio da praça, uma outra passagem interessante veio a tona. Na época residia no bairro chamado Parada Inglesa, na Zona Norte. Havia completado cinco anos, levava uma vida simples com grandes novidades. A vida comum da maioria das crianças da época baseava-se em jogar peão, bolinha de gude, bafo e futebol. A vida não era fácil e coisas como balas, sorvetes e refrigerantes não eram coisas que tínhamos no dia a dia. Somente nas festas e em casamentos é que as “coisas” saiam da rotina. Comidas como frango, macarrão e risotos eram feitas somente aos domingos.<br><br>Na casa de minha avó materna havia fogão de lenha. E coisas como pão, biscoitos, queijadinhas faziam parte de nossa rotina. No quintal de minha casa havia frutas como maracujá, limão, goiaba, banana e cana de açúcar. Tomar suco de maracujá e limonada fazia parte do nosso dia a dia.<br><br>Na época, a escolha da garotada caia sobre o guaraná, sodinha e a cerejinha que eram os refrigerantes mais pedidos. Nas festas de casamentos as bebidas que eram para as crianças vinham em engradados e para os adultos em barril de ”chopp”. Em casa gostava de tomar guaraná, mas furava a tampinha com um prego e tomava na garrafa pelo furinho.<br><br>Naquele tempo as compras eram feitas nos armazéns que ficavam nas esquinas. O Bairro inteiro fazia as compras nesses lugares onde a compra era marcada na "caderneta" e o acerto da conta ficava para o fim do mês.<br><br>Em uma tarde disse a minha mãe que estava com vontade de tomar um refrigerante. E ela disse que sim. Todo contente fui correndo em direção à mercearia onde meus pais tinham conta, já sonhando com qual refrigerante iria pedir. Chegando lá o vendedor resolveu fazer a propaganda dos novos refrigerantes como: Coca-Cola e Crush.<br><br>Resolvi experimentar o refrigerante Crush, pois era diferente, todo marrom e diziam que tinha gosto de suco de laranja. Pretendia levá-lo para tomara em casa, pois eram apenas três quarteirões até<br>minha casa. Estava ansioso para experimentar. Sai correndo com a boca salivando. Lá fui eu, feliz da vida.<br><br>Quase no final do caminho tropecei na guia da rua e cai. Cai, mas tomei o cuidado de proteger a garrafa, só deu tempo de salvar parte dela. A garrafa caiu de lado e partiu o gargalo. Comecei a chorar.<br><br>Me levantei e corri para casa levando a garrafa junto. Minha mãe percebeu que minha vontade era beber o Crush. Ela disse para jogar fora a garrafa, pois era perigoso, mas percebeu que eu queria muito beber o refrigerante Crush e eu insistia que queria beber.<br><br>De tanto insistir, ela consentiu. Pegou um vasilhame como recipiente e uma peneira de plástico seguido de um pano de prato limpo que servia como coador, assim acabou fazendo uma dupla filtragem. Ela despejou o que havia sobrado na garrafa, acho que deu quase um copo e finalmente eu pude então sentir o gosto do Crush. Era uma delícia. Parecia suco de laranja mesmo.<br><br>Virei fã incondicional do Crush, muito parecido com o refrigerante Fanta. Aquele sabor experimentado jamais foi alcançado depois em toda minha vida.<br><br>Hoje é difícil encontrar locais onde o Crush esteja à venda.<br><br><br>[email protected]