Perdi minha mãe com 4 anos de idade, meu pai casou-se e minha madrasta era fera, nunca pude fazer nada, nem infância tive. Só trabalhava nos afazeres de casa, nem ao menos pude estudar. Com 17 anos, meu pai um dia me deixou em casa de conhecidos dele e nunca veio me ver; eu era bem tratada lá, porém eu estava cansada de viver assim, sem ter vida própria. Então resolvi comprar um jornal, O Estadão de São Paulo.
Comecei a procurar uma vaga para moças. Achei um pensionato que ainda iria começar a funcionar, fui a primeira a chegar. Saí de casa, não contei nada a ninguém, peguei o trem onde eu morava, em Caieiras e desci na estação da Luz. Eu iria morar na Avenida São João. Arrisquei tudo pela minha liberdade. Tinha um dinheiro, herança de minha falecida mãe; coisa pouca mas que seria um começo. Arrumei um trabalho, e isso aconteceu no ano de1981, quando completei 18 anos e me emancipei para receber a tal herança.
Nunca mandei notícias para minha família, pois eu estava vivendo na cidade grande, eu era livre. Conheci muitas pessoas boas que me ajudaram, pois não foi fácil. Aprendi a conhecer Sao Paulo sozinha, foi tudo maravilhoso apesar das dificuldades. Que bom que tudo deu certo, foi realmente a minha emancipação, pois se fosse hoje, que é tudo tão perigoso, não sei o que poderia ter-me acontecido por lá.
Hoje moro em outra cidade, no interior, mas jamais esquecerei da minha aventura na cidade grande – São Paulo – que à noite eu fazia caminhadas no minhocão, quando ainda estava sendo construído. Foi lá que eu tive a chance de viver a minha vida sem depender de ninguém. E eu consegui, pois “SÃO PAULO ME DEU ESTA CHANCE”. Também gostava muito de ir ao centro, fazia compras no antigo Mappim, loja tão conhecida em São Paulo. Como foi bom! Pena que hoje em dia seja tudo tão diferente, tão perigoso. Tive sorte.
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