São Paulo sempre me surpreende.
Em meio ao gigantismo de suas construções e avenidas, constantemente encontro pequenos detalhes que me deixam intrigada e por vezes perplexa.
Admiro a forma como certas plantas, sejam pequenas ou de grande porte, conseguem sobreviver se adaptando às mais adversas condições possíveis, e às vezes se destacam formando cenas inigualáveis em meio à paisagem de concreto, porém, muitas dessas plantas não resistem, pois estão em locais sem qualquer possibilidade de sobrevivência e não chegam sequer a crescer.
Mensalmente utilizo uma passarela que fica entre a Estação Pedro II do Metrô e a Várzea do Carmo, no centro da cidade.
São vários minutos andando numa estreita passarela paralela a um viaduto sobre avenidas movimentas, tendo ao meu lado somente as grades de proteção. Observo aquela paisagem onde vejo a Avenida do Estado, dentre outras, ao longe, os prédios do centro antigo, o Edifício Altino Arantes e sua bandeira, as torres azuis da Catedral da Sé em meio aos primeiros raios de sol, pois passo por ali bem cedo. São ângulos diferentes para se fotografar, coisa que às vezes consigo fazer quando tenho um pouco mais de tempo para poder parar.
Certo dia observei uma pequena planta que se mostrava vigorosa e crescia bem na extremidade da laje da passarela, exatamente sobre a Avenida do Estado. Fiquei intrigada sobre como ela foi crescer ali naquele local tão inusitado.
No mês seguinte já dava para saber que se tratava de uma pequena goiabeira. Era certo que ela não sobreviveria naquele local, pois não havia terra para suas raízes se fixarem.
No mês seguinte, resolvi tirá-la dali e, apesar do esforço para chegar até a beirada da passarela através das grades de proteção, acabei tirando-a facilmente. As raízes estavam praticamente soltas sobre uma pequena camada de pó que se acumulava e solidificava com o sereno, sol e chuva.
Com todo cuidado a embalei num papel umedecido com água e a levei para casa, onde a replantei e reguei diariamente.
As antigas folhas secaram e pensei que ela não sobreviveria à brusca mudança, mas continuei a regá-la na esperança de que ela reagisse.
Ontem vi seus primeiros brotos nascendo e já faço planos sobre onde irei plantá-la.
Com certeza será num terreno adequado onde ela poderá crescer e produzir muitos frutos.
Assim é a vida da gente, às vezes nos deparamos com quem precisa de nossa ajuda para ter condições de sobreviver.
Em algum momento, mesmo na correria de nosso dia a dia, encontramos a oportunidade de fazer algo, mesmo que seja para uma pequena planta que está condenada.
Encontramos crianças, idosos, animais e tantos que às vezes precisam de um pouco de nós, mesmo que seja um sorriso ou uma mão confiável para atravessar uma rua, ou alguém para dar prato de comida.
A oportunidade nos é dada a todo momento, basta percebermos.
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