Lá pelo início da década de sessenta, eu ainda um garoto – acreditem este quase cinqüentão que vos escreve já foi um garoto -, havia na Rua Direita uma loja de calçados chamada Eduardo. Na sobreloja funcionava um salão de cabeleireiro infantil, o Eduardinho.
Pois bem, minha mãe resolveu, um belo dia, me levar lá, na Rua Direita, para cortar o cabelo. Ela costumava me levar em um salão na Ponte Pequena, mesmo, o bairro onde morávamos. Porém, sei lá o motivo, daquela vez decidiu me levar ao centro da cidade, no tal Eduardinho.
E lá fomos nós: trolebus até o Vale do Anhangabaú, onde descemos. Só que a Rua Direita ficava em uma parte mais elevada da região, à altura do Viaduto do Chá, que passava por cima do Anhangabaú.
Pois bem, minha mãe descobriu uma escada, que ficava paralela ao viaduto e servia de acesso a quem, como nós, estava no vale e pretendia subir ao nível do Teatro Municipal, do Mappin e da Rua Direita. E lá fomos nós, pela bendita escada. Ela era estreita e além dos degraus e do corrimão, nada mais havia que pudesse conferir segurança aos usuários.
É isso aí: minha mãezinha descobriu a escada e eu descobri que tinha acrofobia, quer dizer, um verdadeiro pânico de lugares altos.
Conclusão: eu travei, assim que chegamos ao ponto médio da escada. Não subia nem descia. Congelei.
Depois de ter congestionado o trânsito na escada e de intermináveis vinte minutos de tentativas de minha mãe e de algumas outras pessoas de me convencer a sair daquele estado de congelamento físico e mental, alguém teve a brilhante idéia de chamar um policial da guarda civil (lembram do uniforme azul?), que com muita paciência, me pegou no colo e desceu a escadaria, de volta ao Vale do Anhangabaú, de onde, em minha opinião, nunca deveríamos ter saído.
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