Nasci e cresci na Rua Bela Cintra, 1891 entre as Alamedas Tietê e Lorena. Nossa casa de tijolos a vista e lírios amarelos era maravilhosa. Uma árvore Sibipiruna cheia de taturanas enfeitava a frente dela. Tempos estupendamente felizes. Tenho até hoje, guardado em minha memória olfativa, todos os cheiros da infância. <br><br>Os poucos carros que trafegavam não nos impediam de brincar na rua com toda a vizinhança. Como era mão para subir, a velocidade era reduzida, então havia tempo de corrermos!<br><br>Na esquina da Tietê com a Bela Cintra havia a "venda" do Sr. Joaquim, um português carrancudo e com sotaque. Seu filho mais novo, o João, brincava junto com todos; hoje ele vive em Portugal. Em frente, morava uma senhora alemã que pouco víamos. <br><br>Descendo a nossa calçada estavam as espanholas Luiza, Olímpia e minha grande amiga Anita, que hoje vive na Espanha. Em seguida, morava o advogado Geraldo Castellar com a sua esposa Dona Helena, que fazia maravilhosos bolinhos de chuva com café à moda caipira coado em coador de pano. Tinham dois filhos: Gabriel e Maria Cristina, meus amigos de infância e de toda a vida!<br><br>Em seguida o Sr.Fares (dono de uma fábrica de luvas) e a Dona Hebe, cujos netos hoje são policiais. Depois vinha o médico ginecologista, Dr. Mauad, que tinha uma empregada chamada Né. As esfihas que ela fazia… Hummmm! Em frente a eles ficava uma senhora austríaca Waltraut e sua mãe D. Melanie junto com mais uns quatro cachorros dachshunds. Em frente do outro lado, havia uma família alemã. <br><br>O Sr. João tinha um "carro de aluguel", um enorme Chevrolet preto, ficava logo adiante. Nós chamávamos a casa dele de “Castelinho”. Ele tinha três filhas, mas nunca mais soubemos de seus paradeiros. <br><br>Nossa vizinha de muro era a família Aratangy, que vinha antes da família Tanaka e depois a família do produtor baiano José Luis Nunes e a esposa Elza. Eram tempos em que havia reuniões com pianistas brasileiros e estrangeiros, além de bailarinos como Marika Gidali (do Stagium) varando a madrugada… Depois veio a família Mazzoni, com que temos amizade até hoje. Quase fomos vizinhos da cantora Martinha! <br><br>Em frente morava uma família holandesa, que, após uma tentativa de assalto feita pelo bandido da luz vermelha, mudou-se para a Holanda. Descendo havia a família do Sr. Abrahaão, Dona Dora e seus dois filhos, hoje médicos. Eram judeus vindos de campos de concentração.<br><br>Também tinha o famoso andarilho ”Tétetê”, que todos os dias pedia uma refeição e saía gritando: “Getúlio Vargas já perdeu, tétetê….” Era gaúcho e tomava banho nos primeiros edifícios que estavam sendo construídos na rua. Quando encontrava com a gente, perguntava se estávamos estudando direitinho… Um dia sumiu!<br><br>Morei ali até 1972. Tempo em que vizinhos eram amigos, as pessoas tinham o hábito do respeito, havia educação, ninguém fazia da rua uma grande lata de lixo… Tudo isso apesar da ditadura militar!<br><br>A Rua Augusta já estava decadente. O cine Paulista com seu hot-dog e batata-frita na caixinha já não mais existia. A livraria Mestre Jou também não. A loja dos chocolates Sonksen fechou. As paqueras (sobe e desce) na rua já haviam acabado. <br><br>As lojas de disco eram poucas. A casa Toddy ficou, a Dentelles também, a Galeria Ouro Fino idem; Santa Luzia mudou. O Colégio Meira fechou, o Nossa Senhora de Lourdes mudou. <br><br>Que pena, o tempo passou! Que bom, ainda estamos por aqui! E não, eu não sou obesa!!!<br><br><br>E-mail: [email protected]<br>