10 era a camisa deles

Onde estão eles?

Fiquei apaixonado pelo futebol em 1962 quando pelo rádio, na vendinha do Seu Luiz (o portuga que o meu cachorro Thor brigou por ter errado na conta), junto ao meu pai e uma turma de amigos, escutávamos ao jogo Brasil e Espanha, uma daquelas viradas empolgantes mesmo sem Pelé. Garrincha e Amarildo decidiram aquele jogo.

Durante o tempo em que o Brasil perdia eu ouvia meu pai berrar, "esse time não tem um 10" e "como podemos ganhar sem um 10".
Naquela época eu não sabia o que ele queria dizer exatamente, mas repetia com toda força "sem um 10 não dá".

Comecei a ir aos estádios aos doze anos em meados de 1963, e tive a oportunidade de perceber que todo jogador que me empolgava vestia a camisa de número 10. Tive o privilégio de assistir em campo, no Morumbi e Pacaembu, com a 10, Ademir da Guia com seu lindo futebol de passos longos e cadenciado, e não lento como comentam aqueles que não o viram. Ademir cobria todo o setor de meio campo, vinha buscar em sua intermediária, ora pela direita, ora pela esquerda. Conduzia a bola com maestria de cabeça levantada, lançava, não errava passes e ainda chegava na área para concluir, foi um 10 completo.

Vi Dirceu Lopes rápido com a bola nos pés, drible fácil e enorme poder de penetração, pena que em sua época tínhamos grandes números 10 e, em minha opinião, Dirceu Lopes merecia uma copa do mundo.

Vi o maior de todos, sim, ele mesmo, Pelé, um 10 mais avançado, que jogava do meio para frente pelos dois lados com preferência pelo esquerdo e pelo centro, conduzia com divindade, lançava com maestria, tocava com rara beleza, corria lépido como uma gazela que foge da leoa, subia como uma águia e finalizava como uma flecha.

Gerson também me empolgou jogando pelo Glorioso Tricolor do Morumbi, um 10 que ficava mais fixo no meio campo, auxiliava a marcação e lançava com a esquerdinha como ninguém até hoje consegue fazer. Também pude ver Rivelino em seu auge, para mim o segundo maior jogador brasileiro que vi em atividade, completo, um 10 de toque refinado, dribles desconcertantes e uma pancada indescritível.

Havia 10 gringos e o melhor que vi jogar foi Pedro Rocha, dono do meio campo da Celeste e do São Paulo, provavelmente o mais elegante e refinado de todos.

Surgiram Zico e Maradona e o 10 ressurgiu com eles. Lembro-me dos jogos de Maradona no Nápoles, armando e servindo à Careca. Temos que aceitar, pois eu e muito de nós vimos Diego jogar e acabar com o jogo, era um 10 que jogava mais como um ponta de lança, muito parecido com o próprio Rivelino "seu ídolo" e também com Zico. Nas bandas de cá estava Zico, craque forjado para ser craque, completo, rápido, driblador, lançador, finalizador.

Poderia aqui falar sobre uma centena deles, apenas vou registrar mais alguns que encheram meu olhar de felicidades. Zenon, Dica, Ailton Lira, Carpegiani, Raí, Sócrates, Zidane, Riquelme, e outros a quem peço desculpas por não colocar na lista, não porque foram melhores ou piores, apenas por uma questão de tamanho deste texto.

E hoje quem são os 10?

Pelo que tenho assistido hoje, eles são todos volantes de marcação, ou, como dizem os entendidos em táticas, os segundos volantes. Para mim volante é 5 e 5 vale meio 10.

Onde estão os 10?

e-mail do autor: [email protected]