Vila de artistas musicais

Antes de tudo, desejo congratular-me com a equipe do São Paulo Minha Cidade, por abrir um espaço tão precioso, onde podemos exercitar nosso direito de cidadania.
 
É com imenso prazer, que retorno a este cantinho da saudade, pois já havia participado tempos atrás, com o título de “Vila Inesquecível”, expressando nossas histórias verdadeiras, recheadas de lembranças e revestidas de todos os momentos felizes, que no decorrer da vida ficaram registradas em nossa memória.
 
Continuando nossas reminiscências… Morava com meus pais, no bairro da Liberdade, numa casa assobradada, em uma vila chamada Ferreira da Rocha.
 
Nessa vila, residiam amigos já mencionados anteriormente no sub-título “Vila Inesquecível”, a qual foi palco de vários comerciais de televisão e filmes. Foi berço de artistas, hoje consagrados tanto nacionalmente, como internacionalmente.
 
Na época, fazíamos na sala de casa, um som extraordinário. A janela era de frente para a rua, por onde transitavam jovens estudantes do Colégio Paulistano e, posteriormente, acadêmicos da FMU, em direção aos estudos. Inevitavelmente paravam para se deliciar com as melodias, observar a versatilidade dos músicos ali presentes.
 
Iniciando essa narrativa, menciono o nome de meu compadre e querido amigo Dr. Mauricio Camargo Brito, que na época ainda cursava odontologia na USP, e após anos de estudos, se graduou e tornou-se um renomado cirurgião dentista, atendendo entre outros nada mais, nada menos que Raul Seixas.
 
Nas horas de lazer, Dr. Maurício, vinha em casa com seu entusiasmo constante pela música, e nos brindava com solo de piano (que possuo até hoje), e nos deixava completamente em êxtase, não só pelas músicas altamente selecionadas, como também pela execução primordial.
 
Dentre os amigos que também tinham esse dom musical, surgiu um menino com vasta cabeleira loura, chamado Arnolpho Lima Filho (Liminha), cuja especialidade era tocar contrabaixo elétrico.
 
Hoje um dos maiores músicos do Brasil, um produtor fonográfico de reconhecido valor mundial, pois já produziu dentre outros Ray Charles, bem como tocou com os Mutantes, Gilberto Gil e vários artistas de reconhecido nome, chegando inclusive a Vice-Presidência da Sony do Brasil.
 
Como cantor tínhamos o professor de matemática do curso Etapa, João Carvalho, possuidor de uma voz incrível, de uma versatilidade musical como poucos, in memoriam. Como baterista Adias, que desempenhava seu instrumento com uma perfeição singular, falecido no ano de 2005.
 
Nesta época gravamos um disco de acetato usado para a produção de registros de áudio, com duas músicas, Georgia On My Mind e Na Baixa do Sapateiro, cujo exemplar possuo até a presente data, é claro com muito ruído.
 
Cabe aqui uma observação, não me recordo bem porque o Liminha estava sem o seu contrabaixo elétrico, mas o estúdio possuía apenas o contrabaixo acústico. Perguntaram a ele se já tinha tocado nesse instrumento, quando a resposta foi um sonoro “NÃO”, “Mas vou tentar”, expressou ele.
 
Como não alcançava a parte superior do rabecão, acabaram arranjando um banquinho para que pudesse subir. Para nossa surpresa, aquele menino começou a dedilhar o instrumento e parecia conhecê-lo há uma eternidade, até o dono do estúdio ficou estupefato com tamanha desenvoltura.
 
Dr. Carlos Eduardo Aun, atualmente famoso cirurgião dentista e professor em diversas universidades, na época também músico (talentoso guitarrista), ao ver aquele menino tocar, imediatamente, o levou para seu conjunto denominado “Baobás”, que na época acompanhava Ronie Von em seu programa televisivo na Rede Record. Antes passaram por outro conjunto incrível, denominado “Os Lunáticos”.
 
Nesta oportunidade, fundamos a “São Paulo Elvis Presley Society”, entidade sem fins lucrativos, que era composta na sua originalidade por Dr. Mauricio Camargo Brito, Paulo Sacramento Dias (Marengo), Walteir Terciani, Antonio Yamamoto (Nacional) e eu, Alexandre Glosser.
 
Após algumas reuniões na minha residência e na do Dr. Maurício, chegamos a conclusão que o presidente da entidade deveria ser Paulo Sacramento Dias, que aceitou e, de pronto me incumbiu de elaborar o estatuto, o qual foi efetuado com o posterior registro.
 
Ciente que a SPEPS estava em boas mãos, me afastei para contrair núpcias com Janete, lá se vão 42 anos, nos caminhando para Bodas de Ouro, se Deus assim o permitir – aliás, temos quatro filhos maravilhosos. Prosseguindo com a história, me distanciei das reuniões, para buscar o sustento da família, e para me formar em direito. Não me restou alternativa, a não ser arredar temporariamente do convívio com os membros da SPEPS, devido aos inúmeros compromissos, tanto no trabalho como na faculdade.
 
Após alguns anos atuando como presidente da entidade, Paulo Sacramento passou o bastão para Marcelo Costa, sendo então o responsável pela direção da entidade.
 
Aliás, cabe aqui uma observação e mágoa, porque logo após minha colação de grau na faculdade, retornei a convivência na SPEPS, já sob novo comando e, ao requisitar minha carteira de sócio, colocaram o número de matrícula 63, tendo sido um dos sócios fundadores da SPEPS, bem como elaborador do estatuto. Muita mágoa rolou, com esse erro, mas tudo bem, a vida é assim mesmo.
 
Meu Compadre Dr. Maurício, conhecido também no mundo artístico como Morris Britt, é um célebre escritor especializado na vida de Elvis Presley, com inúmeras edições que se tornaram Best Seller. Além disso, dá palestras sobre as origens do Blues, Jazz e Rock, continua gravando e tocando com The Jordans, bem como se apresenta com Rock Luciano em vários eventos pelo Brasil.
 
Anos atrás, resolvi prestar uma homenagem ao Liminha, e compus uma música retratando o início de tudo. Fui auxiliado nesta empreitada pelo Dr. Mauricio e, pelo falecido Nenê, do conjunto “Os Incríveis”.
 
Gravamos nos estúdios das Irmãs Paulinas, na Vila Mariana em São Paulo. Que estúdio magnífico! Foi dimensionado para orquestras, com inúmeras entradas de áudio.
 
Por fim, a melodia acabou fazendo parte de um LP, denominado “A Fera Solta”, cujo protagonista e a capa principal era Fernando Boca de Minas Gerais. Ainda faziam parte deste LP outros artistas como Conjunto 14 Bis, Luiz Ouro Preto, Pendulum, Antonio Bahiense, entre outros.
Entretanto, acredito que o Liminha não teve conhecimento dessa singela homenagem… E ficou por isso mesmo!
 
Por derradeiro, hoje resido no interior de São Paulo, já aposentado, um pouco debilitado fisicamente, recordando momentos prazerosos que a vida nos ofereceu.
 
Reitero meus sinceros agradecimentos a toda equipe do São Paulo Minha Cidade e espero ansioso por essa publicação.