Vida de artista ou malabarista

Durante a minha permanência em São Paulo, capital por algum tempo, imaginei ser um artista. Já nesse tempo, mais cedo, jovem ainda, colecionava o álbum de artistas famosos. Rapidamente o tempo passou e, em 1965, já estava no trabalho, aliando essas coisas que os jovens gostam: mulheres, música, futebol, festas. Dali a dois anos, em 1967, trocaria o lugar desses sonhos e devaneios juvenis junto a uma cidade grande como São Paulo. Descera do ônibus, que me levara à cidade, com uma bagagem razoável (risos). 

Era e queria ser um famoso artista. Como atingiria este estágio eu não sabia, mas haveria de tentar. Trabalhei por 30 dias em uma encadernadora, em Água Rasa. História que já contei e que consta do livro “Mais de Mil Memórias”, lançado pela São Paulo Turismo e PMSP na Sala São Paulo, bairro da Luz, em 2 de abril de 2008.

Ato contínuo foi conseguir meu novo emprego. A empresa Roper S/A estava necessitando de um auxiliar de contabilidade, uma espécie de subcontador e para lá consegui a vaga. Minha vida atribulada em São Paulo começou a melhorar um pouco.

Residia bem próximo ao prédio da Bolsa de Cereais de São Paulo, na Av. Senador Queiroz, e morava em uma pensão ali próximo, na mesma quadra, nas imediações do Mercado Municipal. A empresa tinha um depósito na Rua Vinte e um de Abril, no Brás, e para lá me dirigia com frequência, para cuidar dos papéis e carteiras profissionais dos empregados, cuja atividade era de enlatar o azeite Carbonel e Musa, e azeitonas verdes e pretas, ambos os produtos importados da Europa. 

Walquiria me pergunta se fui um artista ou malabarista? Isso convivendo em São Paulo? Ora. Lembro-me do percurso que fazia do escritório ao depósito no Brás. Às vezes, fazia o trajeto a pé, enquanto a imaginação voava a cumes superiores. Escrevo atrevidamente e, enquanto escrevo, explicando o lado difícil da vida que levava por São Paulo.

Era como "um rapaz sentado a beira do caminho", e que não tinha mais fim. O que fazemos com nosso precioso tempo enquanto vamos vivendo, perseguindo dias melhores que com sorte alcançaríamos. Imaginava que na cidade de São Paulo, pudesse continuar os meus estudos, até então havia cursado o 2º grau, o Ensino Médio, era um técnico contábil. 

Apegava-me a cada oportunidade. Ora com a bola, tinha lá minhas escassas pretensões e esperanças de poder vencer no esporte, tendo alguma oportunidade em um time de futebol profissional, coisa que não aconteceu.

Nos programas televisivos da TV Tupi ou no Teatro Record, na Avenida da Consolação, circulava naqueles ambientes tentando chamar a atenção de algum ator, para quem sabe ter algum convite. Gostava de representar e, nos papéis exercidos no teatro, obrigava-me a decorar as conversações do meu personagem. Encontrei nessa ocasião o ator Luiz Gustavo, que fizera o papel principal na novela Beto Rockfeller. Cheguei a conversar com ele em um balcão durante os intervalos das gravações.

À noite, frequentava alguns clubes e casas de shows nas proximidades do Largo do Arouche. Por ali circulavam algumas pessoas famosas e procurava assim manter contatos, pensando em uma oportunidade. 

Acho mesmo que esse campo, onde atua o ator, não era para mim. Exceto o papel que é de todos, sendo um ator social ou um agente social.

Meu papel estava, acho, reservado para minha própria sobrevivência. Assim, cansando de procurar, fixei-me nas oportunidades concretas em São Paulo, para subir na vida. Não apareceram as oportunidades buscadas.

Nos campos das atividades artísticas, bem como no esporte, é necessário termos ao nosso lado alguém que nos conheça bem e aposte no nosso próprio talento. Esse profissional chama-se “empresário” e, como não conseguira chamar a atenção desse profissional, minha vida sonhada acabava por ali mesmo. Assim, voltei para casa meio desanimado.

Algum tempo depois, estando praticamente sem ter nada mais por fazer, um amigo incentivou-me a fazer o vestibular, tentando uma vaga numa Universidade. Naquele ano mesmo fiz minha inscrição e aconteceu assim um verdadeiro milagre. Eu passara no vestibular do ano de 1971 e poderia escolher o curso entre: economia, Direito, Administração ou Contador. O curso de Artes cênicas não havia.

Estava com pouco mais de 25 anos. Ficara sem estudar seis anos. Ficara um tanto desatualizado, mas tinha uma boa base do ginásio que havia feito, onde estudávamos Física, Química, Português e Matemática, além de línguas: Latim, Francês, Inglês.

Optei por fazer Contabilidade emendando ao curso técnico que já possuía e me formei em 1976. Anos antes, já ingressara no BESC, um banco público onde fiz minha carreira como profissional, tendo sido posteriormente engradado como Técnico de nível Superior, para minha alegria.

Lembro-me de que, após o meu retorno à terra natal, um ex-ator que atuara em alguns filmes na Atlântida Cinematográfica do Rio de Janeiro casara-se com a irmã da esposa do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Essa senhora conhecia uma artista que morava no Rio e que falara com uma atriz, Bete Klabin, para a possibilidade de um encontro, onde eu pudesse ter a minha oportunidade (risos).

Quando conto essas coisas, meus familiares sempre dizem que é invenção, mas é a pura verdade. Ela me convidara para ir ao Rio, mas achei que era arriscado e não fui.

De candidato a ator, me tornei sim um amante do cinema. Ainda hoje curto as sessões de cinema e quase todos os dias assisto a bons filmes na televisão a cabo. Sempre me detive em observar o modo como representam seus papéis e acompanho sempre as premiações deles, como a entrega do Oscar.

O cinema é uma forma gostosa de você se divertir e passar algumas boas horas. Tanto que em São Paulo, quando por aí fiquei, assistia a vários filmes nas casas de cinemas do centro velho.

Colegas nossos aqui do site conhecem todas essas casas, e contam do sucesso e do fracasso quando elas são fechadas, por exemplo. 

Narro esses fatos ocorridos durante a minha vida, porque gosto de escrever e me comunicar com as pessoas, os nossos caros leitores. Nas histórias que escrevi aqui no site e nos comentários feitos por pessoas, entre elas professoras de literatura e de outras áreas do saber, comentam sobre a importância de nossos textos para pesquisa e informação de seus alunos. 

Ainda, com certeza, tenho algumas coisas a mais por contar, mas deixo para outra oportunidade, e espero que tenham gostado desta narrativa.

Um abraço!