Veja, ilustre passageiro…

Adentrando os imponentes espaços do Instituto Tomie Ohtake, bem ao fundo, ao lado do restaurante, deparamos com duas curiosas exposições, capaz de despertar lembranças saudosas no mais empedernido e circunspecto dos ranzinzas.

Isto depois de termos dado uma olhada, no andar de cima, nas curiosas obras do badalado Vic Muniz. Descendo a escada e passando pela pequena multidão disputando uma mesa para comer, ali estão: a exposição de rótulos de cachaça, desde os mais famosos aos mais primitivos e anônimos de perdidos alambiques do sertão, e a dos Annuncios em Bonds.

Annuncios em Bonds… Quem, já de certa idade, não se lembra deles, sendo que em alguns casos foram até sua própria motivação para aprender a ler? Veja, ilustre passageiro, o belo tipo faceiro… Larga-me, solta-me, deixa-me gritar… Assim como me vê, são vistos os anúncios da Annuncios em Bonds…

Cada um tem suas lembranças particulares do qual lhe marcou mais, mas Veja, ilustre passageiro é unanimidade, e justamente por isto dá nome à mostra.

Belos cartazes, dos primórdios da propaganda em São Paulo. Fora eu de uma geração anterior, talvez também tivesse trabalhado neles, no Atelier Mirga.

O atelier foi criado e dirigido pelo polonês Henrique Mirgalowsky, e entre 1928 e 1970 criou os principais cartazes de bondes e ônibus, que fazem hoje parte de nossa história e do imaginário popular.

Entrei na publicidade mais tarde, quando ao atelier já estava fechando suas portas, bem como os saudosos bondes. No caso dos que portas tinham, pois peguei o bonde já andando, agarrado no balaústre – mais uma coisa, e palavra em desuso, como os bondes.

Ainda assim, conheci alguns dos grandes artistas que trabalharam com Mirga: Fritz Lessin, que parecia um conde alemão, mas era de uma simplicidade cativante; Ivo Araújo, excelente pessoa e diretor de arte, João Cardacci, já velhinho, dirigindo o estúdio da Almap. As artes finais, desenhos e letras, tudo à mão, a anos luz de computação gráfica e fotocomposições. Na munheca, mesmo, e lindo.

Convido-os então a relembrar os velhos nomes: Phymatosan, Vic Maltema, Leite de Rosas, Vinho Centauro, Eucalol.

E a rever até mesmo aquele belo tipo faceiro, que, acredite, quase morreu de bronquite.

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