Como eu já frisei no último relato, fiquei desempregado devido ao fechamento da empresa. Meus falecidos cunhados Oscar e Airton Leite resolveram me oferecer uma colocação nos escritório de contabilidade que eles mantinham em São Caetano do Sul. Fiz o concurso para Despachante Policial, fui aprovado e comecei a exercer a profissão naquele município, mas não tive sucesso pois a concorrência era muito grande.
No escritório minhas chances de crescimento eram mínimas, já que meus cunhados não poderiam aumentar o número de funcionários e nem pagar um salário maior do que os que estavam sendo pagos aos demais colaboradores. Em vista disso comecei a procurar uma colocação em outro ramo.
A coisa estava difícil e após uma peregrinação por inúmeras salas de "RH" e distribuir um calhamaço de currículos, comecei a trabalhar numa empresa fabricante de óleo comestível da marca "Biriguí" recebendo apenas comissão.
O produto era novo na praça e não consegui rendimento suficiente para minhas despesas. Solicitei dispensa e fui trabalhar em outra empresa produtora de óleo comestível da marca "Pacaembú". Lá consegui angariar uma carteira de clientes que me permitiram auferir um ganho melhor. Mas, por azar a empresa resolveu dispensar os vendedores externos e mais uma vez fiquei no "desvio".
A luta tinha que continuar, pois tinha agora vida de casado e com uma filha pequena. Eu tinha que me virar. Nova oportunidade surgiu num dia chuvoso de fevereiro de 1966: o despachante aduaneiro Laércio Teixeira Ramos, com quem eu já havia trabalhado na Iris, me encontrou tomando café em um bar da Av. Ipiranga.
Após os cumprimentos e comentários de praxe sobre a família, confessei a ele que estava desempregado e à cata de uma colocação. Imediatamente ele me deu o endereço de seu escritório lá no Viaduto Santa Efigênia, onde também trabalhava meu antigo colega da Iris.
De nome Rudovico e mais o Haroldo Amalfi, o Antonio Correia e o também despachante aduaneiro Renato Bucciarelli – este último foi como um pai para mim e para os outros funcionários do escritório.
Não havia vínculo empregatício, todos trabalhavam e no final do mês a renda do escritório era distribuída entre todos. O Sr. Renato como dono ficava com 40% do rendimento, os 60% restantes eram divididos com os demais após abatidas as despesas com aluguel da sala, luz, etc.
O Laércio ficava com a renda de seus clientes, mas contribuía com as despesas do escritório e, para que eu pudesse funcionar junto ao setor de importação na antiga Estação Aduaneira de Importação Aérea em São Paulo, me nomeou como seu ajudante oficial.
Após me filiar ao Sindicato dos Ajudantes Aduaneiros de São Paulo comecei a trabalhar no setor de Colis-Postaux no correio central e também no armazém de carga aérea que funcionava na esquina da Rua Santa Efigênia com a Av. Ipiranga. Esse departamento mudou depois para a Rua Florêncio de Abreu, onde hoje funciona um setor da Receita Federal.
Na nova função conheci várias pessoas importantes com as quais tive a sorte de trabalhar e aprender muito sobre a rotina do serviço de desembaraço de mercadorias importadas. Tive vários "professores" que me auxiliavam no dia a dia, entre eles destaco o falecido Rômulo Machado França (foi ex-pracionha da FEB e lutou na Itália), o Luiz Gonzaga Cruz Junior (grande companheiro das rodadas de aperitivo em um bar da Av. Conceição, onde costumávamos comentar as atividades do dia saboreando uma caipirinha e beliscando porções de fritas e queijo provolone).
No correio tive também grandes companheiros como o Mário Polichetti, o Walter Pavanelli, o Érico dos Santos Machado, o Salvador (mais conhecido como "Chulé"), o Nilson Tavares e tantos outros que a minha memória não conseguiu gravar.
Como nos seriados do cinema: continua na próxima semana.