Acendo um incenso com essência de canela e coloco junto ao mensageiro dos ventos pendurado na janela. Sopra uma brisa vinda não sei de onde e deito no sofá contando pela enésima vez os poucos livros da estante. Relembro suas histórias e paro para pensar em você, naquele momento em que conversava com sua amiga. Distraídas e indiferentes aos pingos de chuva dessa tarde, talvez falassem de amenidades importantes ou sobre o rapaz bonito que reatou com a antiga namorada.
Passei rápido sem querer atrapalhar. Eu ando sempre com pressa e nunca usei relógio. Precisava ir, e de perto, fiz um rápido aceno. Não deu como você me cobrar os e-mails prometidos, reflexões sem nexo, histórias do dia a dia que te fazem sorrir.
Que atitude foi aquela de não ter tempo de olhar para trás? O metrô me chamava? Por que não ter parado e ter te oferecido um resto do meu sorriso culpado, meio acanhado, um tanto sem graça? Que mal há em abraçar as pessoas no meio da multidão, debaixo da garoa? Corria para atender clientes, corria da vida, corria da solidão ao lado daquela esquina? Por que é tão difícil conversar numa grande metrópole?
Queria tanto ter dito "legal de te ver", "tanto tempo, ‘né’?" ou "O que tens feito?". O certo que fiquei com essa coisa na cabeça, essa falta de educação permitida, consentida, mal criada, um crime hediondo. Tudo é tão rápido… Quando será possível eu te ver novamente naquela avenida molhada sem pressa de viver?
Um abraço,
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