Chovia copiosamente em uma certa noite de Natal, todavia, por encanto, ela como milagre cessaria e com lágrimas de alegria molhariam as árvores ornamentadas por raios de luzes que enfeitavam a cidade; nossos olhos ficariam extasiados diante dessa deslumbrante cena, os pingos oriundos das plantas e árvores floridas cairiam ao chão dando ensejo às emoções que se sucediam, a paz reinaria naquele momento sublime; ao som de “Jingle Bells”, canção natalina. As poucas e despreocupadas pessoas caminhariam na bucólica cidade em meio aos veículos que buzinariam antevendo, anunciando as alegrias da noite estrelada; as pessoas sorriam, não viam a hora de ser recolherem aos seus lares, as bolas coloridas, o pisca-pisca intermitente enfeitariam o pinheirinho cujos presentes coloridos postariam aos seus pés para serem ofertados ansiosamente, as alegrias das crianças seriam apresentadas, a inocência era o primeiro plano, a fantasia do Papai Noel daria na imaginação o ar de sua graça, os adultos mostrariam em seus semblantes a euforia pelo momento mágico da noite, a homenagem ao Menino Deus…
Passaram-se os dias rapidamente, uns conseguiram os objetivos traçados, tiveram os seus sonhos realizados, outros, porém, ficaram no meio do caminho, mas o espírito do Natal daria novas esperanças de dias melhores; no meu íntimo até que deu para ganhar uns trocados a mais, compraria um peru e alguns quilos a mais de bacalhau, meu prato predileto, objeto de desejo caro para os nossos modestos padrões…
Voltaria a chover naquela noite e o inusitado aconteceria na minha imaginação; de repente a campainha de minha modesta residência soaria e para minha surpresa eis que surgiria no portão a figura de uma pessoa conhecida, era o Paulão, morador do nosso bairro de Santana, ele, não sabemos o motivo, se enveredaria para o mundo das bebidas e drogas, tornara-se praticamente um farrapo humano; maltrapilho, ensopado, faminto; não tivemos dúvida, de imediato o recolhemos e o colocamos em nossa simples ceia de Natal; saboreou com satisfação, estava alegre, tornar-se-ia gente importante naquele momento; lá fora a chuva daria uma trégua, aconteceria um milagre, noite ficaria bela, encheu-se de estrelas, foi nesse momento, nesse cenário, que o Paulão se despediu e em palavras desconexas, de coração nos desejou um Feliz Natal. Foi um momento muito marcante. Foi uma certa noite de Natal…
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