Alegria maior não poderia a mãe de Nino ter, na sua vida de viúva com o seu único filho. O menino tudo aprendia o que lhe era ensinado. Em casa e na escola.
A mãe observava-o em silêncio. Era parecido com o pai, no físico e no espírito. A mãe, gratificada, assistia-o em tudo. Nino a surpreendia dia-a-dia. Mas surpresa que a encantou enormemente foi descobrir que ele cantava a canção que ela cantarolava durante as tarefas caseiras. Tinha boa entonação e não errava na letra. Aprendera só, sem nada perguntar.
Outras alegrias a mãe na sua conta foi somando, quando nele despertou o interesse pelo pai que não conhecera. Marinheiro que era, conheceu o mundo navegando um navio mercantil; apenas algumas vezes viu o filho ainda pequenino.
Nino era admirado pelo seu jeito dócil e pela sua voz harmoniosa quando cantava. Nas festas da escola, nos aniversários dos coleguinhas, ele era chamado para cantar. Mas ele apenas cantava uma única canção: a que a mãe cantarolava.
A vida de marinheiro que amava seu ofício. E amava a mulher olhando o mar, seu sonho de vida. E com a ajuda dela, puxar a rede cheia de peixes.
Eu conheci Nino com seu terninho de marinheiro, todo branquinho, com vivos azuis na gola da camisa e punhos. A boina ostentava na frente uma ancora. Eu pedia-lhe que cantasse a canção do marinheiro, e ele assentia dizendo: “Me dá uma paçoca?”.
Foi assim que vivemos dias inesquecíveis durante as férias escolares daquele ano de 1944, na Rua Independência. Por onde andará o Nino?
e-mail do autor: [email protected]