Um domingo do outro lado da cidade

Nós morávamos em Indianópolis, mais precisamente na Rua da Gaivota. Com alguma freqüência, íamos em certos domingos à Penha, lá na longínqua Penha para nós que morávamos na zona sul.

Meu pai sentava-se ao volante do automóvel da família e tudo pronto, partíamos. Avenida Santo Amaro, Nove de Julho e seu túnel, Praça 14 Bis e Anhangabaú. Quando estava terminando a Nove de Julho, ao seu lado direito para quem ia à Santana, havia um enorme estacionamento dos ônibus que iam em direção à região de Santo Amaro (ainda hoje é assim). Meu velho pai dizia que lá era o Largo do Pics, e bem ao seu lado, o início da Avenida Itororó (o prefeito Prestes Maia é que tinha iniciado tal loucura de obra, e outros que o sucederam não continuaram), que mais tarde seria a 23 de Maio.

Passávamos pelo “buraco da Adhemar”, Viaduto Santa Ifigênia, cruzávamos a Senador Queiroz e rapidinho estávamos na Tiradentes. De um lado, logo depois da Rua São Caetano e bem na mão direita, ficava o Quartel General da Força Pública (hoje Polícia Militar), e do outro lado a cadeia pública, com os presos às janelas abanando as mãos – talvez estivessem pedindo algo. Para mim, menino de dez ou doze anos, era realmente uma coisa impressionante aquela gente presa.

Mais um pouco à frente, já chegávamos próximos à Ponte das Bandeiras, onde à margem direita do Tietê e bem próximo à ponte existia o Clube Floresta (hoje voltou ao seu nome de origem, que é Esperia), e do lado esquerdo o Clube Tietê.

Mas nós, os Piacsek, virávamos à direita, um pouco antes da ponte, e seguíamos em direção, agora, à Ilha da Madeira (e o estádio era de madeira mesmo), que era o campo de futebol da Portuguesa e, logo adiante, a Fazendinha, o campo do Corinthians.

Um pouco mais adiante, vira aqui, sobe ali, e já estávamos chegando ao Largo da Penha. Descíamos uma rua que terminava exatamente em frente à entrada do Clube Esportivo da Penha, onde bem em frente passava a linha do trem (Central do Brasil) que seguia em direção ao Rio de Janeiro ou a São Paulo/Capital.

Mas aqui era o lugar, o nosso destino domingueiro. Quase que em frente a esse clube moravam os Doern. Gaúchos de origem alemã e há muito radicados em São Paulo, representavam máquinas de costura Singer com loja bem no Largo da Penha , mas, aos domingos tornavam-se churrasqueiros de mão cheia. Era lá que acontecia o famoso e delicioso churrasco, no lugar que seria a cobertura do pequeno prédio de três ou quatro andares e sem elevador, mas que, na verdade, durante a semana, servia era de varal para secar roupa.

Quando chegava o final da tarde deste fantástico e saboroso domingo, voltávamos para casa. Algumas vezes fazíamos o mesmo caminho de volta, ou voltávamos pela Ladeira da Penha, Conde de Frontim com os trilhos da Central do Brasil, ao centro da Avenida Celso Garcia e Gazômetro. Pronto, já estávamos de volta ao belo centro da cidade, agora tendo ao lado esquerdo o imponente prédio do Banco do Estado e, à direita, a Agência Central dos Correios, bem no começo da Avenida São João.

No começo da nova Avenida São Gabriel, bem onde hoje começa a Nove de Julho, com suas quatro pistas, logo se avistava o que seria um dos primeiros condomínios construídos com recursos dos fundos de pensão, que aqui nesse caso eram dos “bancários”. Prédios modernos para a época, coloridos e, em verdade, muito bonitos. Todos gostavam muito.

Assim terminava nosso domingo, com uma ida e vinda bastante longa, que mais parecia, quase, uma longa viagem através da minha cidade.

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